Título: Valério cobriu gasto eleitoral de Lula
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A11

Pelo menos parte dos R$ 55 milhões pagos pelo empresário Marcos Valério a parlamentares e partidos serviu para quitar dívidas da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Até agora, Marcos Valério e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares juram que o dinheiro bancou somente o caixa 2 de campanhas do ano passado. Os pagamentos rastreados pelo Estado não constam da prestação de contas de Lula entregue pelo PT ao Tribunal Superior Eleitoral. O dinheiro - R$ 457 mil - foi pago à New Trade, uma das agências de publicidade que ajudaram na criação do programa de TV de Lula. A informação foi confirmada ontem pelo dono da New Trade, Einhart Jacome, e pelo empresário mineiro Márcio Lacerda, suposto destinatário dos recursos e até anteontem secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional. Lacerda também foi um dos coordenadores financeiros da campanha de Ciro Gomes em 2002.

Lacerda consta da lista apresentada por Marcos Valério ao Ministério Público, terça-feira. O documento detalha quem recebeu o dinheiro que, de acordo com Valério e Delúbio, veio de empréstimo supostamente contraído para o PT.

Segundo Jacome, a New Trade recebeu o dinheiro de Valério em razão de serviços prestados a Lula no segundo turno da campanha de 2002. No primeiro turno, o publicitário havia trabalhado na campanha de Ciro. "Liguei para o Duda (Mendonça, então marqueteiro de Lula) e dei os parabéns pela vitória e ele me chamou para ajudar no segundo turno."

O publicitário conta que não combinou valores com Duda. "Minha equipe auxiliou no programa de TV do Lula. Não recebemos nenhum centavo e no começo do governo resolvi cobrar." Segundo a lista elaborada por Valério, Lacerda recebeu dois pagamentos da agência SMPB, uma das empresas de Valério, no total de R$ 457 mil. O primeiro, de R$ 300 mil, foi registrado no dia 16 de abril de 2003 e o segundo, de R$ 157 mil, teria acontecido em 17 de junho do mesmo ano.

Apesar de constar como beneficiário dos recursos, Lacerda confirma a versão de Jacome. Segundo o empresário, ele apenas intermediou um encontro do dono da New Trade com Marcos Valério. "No começo de 2003, o Jacome me ligou e disse que o PT estava devendo um dinheiro para a agência dele, relativo a serviços na campanha de Lula em 2002. Ele me pediu ajuda e eu fiquei de procurar o Delúbio, que prometeu ver o que seria possível fazer." Foi então que, segundo Lacerda, Valério surgiu na história. "Em março, eu estava num evento no Hotel Blue Tree, em Brasília, e encontrei Delúbio. Ele me apresentou ao Marcos Valério e disse que ele iria me ajudar", lembra. "Trocamos telefones e, dias depois, marcamos um encontro em Belo Horizonte." Lacerda levou o dono da New Trade para a conversa, que aconteceu na sede da SMPB.

Aqui, há uma pequena contradição. Lacerda assegura ter presenciado a reunião, que teria durado "cerca de 10 minutos". Jacome garante que Lacerda não viu nada. "Chegamos juntos à SMPB e como Valério se atrasou e Lacerda precisava pegar um vôo, me deixou sozinho", conta o empresário. "Eu e Valério acertamos um valor e passamos o assunto para o departamento de contabilidade." Jacome afirma que a transação não foi feita em espécie, como nos pagamentos aos políticos. "A SMPB fez transferências eletrônicas para a conta da minha agência e enviamos a fatura. Está tudo registrado", assegura.