Título: Dono da Guaranhuns se diz vítima de Valério
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A12

"Caso soubesse a procedência dos recursos movimentados pelo empresário Marcos Valério, jamais teria operado para ele." A afirmação foi feita ontem ao Estado pelo empresário José Carlos Batista, proprietário da corretora Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações, que vem sendo apontada por integrantes da CPI dos Correios como suspeita de ser uma das corretoras responsáveis por fazer a ponte dos recursos retirados por parlamentares das contas da agência SMPB para o exterior. Rastreamento do Banco Central já apontou que R$ 7,1 milhões foram movimentados pela Guaranhuns entre 2003 e 2004 por meio de uma conta no Banco Rural em Brasília - mesmo endereço onde políticos e assessores fizeram saques nas contas de agências de Valério. Os valores chegaram à Guaranhuns a partir de cheques emitidos por empresas do publicitário. Batista admite que operou para Valério. Mas diz que se enxerga como vítima em todo esse processo. "Opero no mercado financeiro há 30 anos e não cometi irregularidades", disse.

Ele diz que teme se tornar "bode expiatório" e ter a prisão preventiva decretada. "Caso isso ocorra, vou me considerar um preso político", afirmou. "Tenho residência fixa e estou disposto a contribuir com as investigações." Segundo alega, o atual ambiente político do País o leva a temer que uma decisão como esta seja tomada.

Integrantes da CPI chegaram a levantar a hipótese de que a Guaranhuns é uma nova versão da Operação Uruguai - montada pelo esquema PC no governo Fernando Collor -, com a diferença de que atualmente os ativos foram internados naquele país e podem não ter sido repatriados. A offshore controladora da Garanhuns chama-se Esfort Trading S.A. No Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica a Esfort aparece como sócio estrangeiro da Guaranhuns, com 99% das ações. Batista tem 1%.

Ele garante, contudo, que é o único proprietário da empresa. Sob orientação do seu advogado de defesa, Ricardo Sayeg, disse que espera o momento certo para explicar a sociedade e provar o que diz.

O empresário também não quis comentar a afirmação de que os R$ 7, 1 milhões transferidos pela SMPB Comunicações para a conta da sua empresa teriam como destinatário Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, revelação feita na terça pelo publicitário Marcos Valério de Souza a interlocutores.

Mas disse que pretende se defender no momento certo. "Posso dizer apenas que não sou amigo de políticos nem convivo nesse meio." Atualmente, Batista aguarda o levantamento dos extratos bancários da Guaranhus para estruturar sua defesa.