Título: Para CPI, Cayman abasteceu PT e PL
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A12

Dólares de Marcos Valério Fernandes de Souza para o PT e para o PL passaram pela empresa Guaranhuns, entraram na conta Chello, de uma offshore uruguaia, e seguiram para as Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe. O roteiro de parte da fortuna que o suposto condutor do mensalão movimentou foi reconstituído pela CPI dos Correios. Documento relativo a uma operação executada por doleiros indica que US$ 1 milhão foram repatriados a 1.º de novembro de 2002, apenas 5 dias depois da eleição do presidente Lula. A CPI suspeita que o dinheiro voltou para reabastecer o PL e diretórios do PT, desfalcados após a dura campanha eleitoral daquele ano. A Conexão Cayman é a mais nova descoberta da CPI desde que o rastreamento apontou para a Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações S/C Ltda. A empresa é controlada pela Esfort Trading, de Montevidéu, que detém 99% das cotas da sociedade. A CPI sustenta que os depósitos na conta da Esfort foram determinados por Marcos Valério, com indicações do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares e do presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

O documento que comprova o fluxo de recursos para as Ilhas Cayman foi obtido pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Ele interrogou a diretora-financeira da SMPB Comunicação, Simone Vasconcelos, sobre a Guaranhuns, mas ela silenciou. À Polícia Federal, Simone declarou que Valério lhe dizia que o dinheiro era destinado a pagamento de fornecedores.

A conexão passa pela Beacon Hill Service Corp., empresa de fachada que manteve contas e subcontas no J.P. Morgan Chase de Nova York. Sessenta e dois doleiros brasileiros que enviaram US$ 696 milhões para os Estados Unidos foram presos em agosto de 2004 pela Operação Beacon Hill, desencadeada pela PF. A ofensiva policial travou ativos ilegais no exterior. Parte desse montante teria origem em esquemas de corrupção e doações a partidos não declaradas à Justiça Eleitoral. Segundo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), denunciador do mensalão, o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, teria se queixado na época que "a PF é meio tucana".

A conta Chello, da Esfort Trading nas Ilhas Cayman, número 36011473, opera em uma agência do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). Intrigado, Álvaro Dias requereu informações ao banco gaúcho. "Como instituição brasileira, o Banrisul é obrigado a se orientar pelas normas legais do nosso país", advertiu o senador. Ele quer o cadastro da Esfort.

Para Dias, a Conexão Cayman "é prova cabal que destrói a armação fantasiosa de que todo esse lamaçal de corrupção diz respeito à campanha eleitoral e caixa 2 quando na verdade existem propinas".