Título: Inflação divide cena com a política
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Indicadores de comportamento de preços que saem na semana vão influenciar as expectativas sobre a reunião do Copom

O mercado financeiro vai continuar monitorando a evolução da crise política, mas a menos que surja alguma denúncia bombástica, deve tocar os negócios mirando os dados que formam o quadro de bons fundamentos da economia. Senão por outros motivos, porque esta é a semana que antecede a da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 16 e 17, evento que leva o mercado a redobrar a atenção com o comportamento da inflação. O vice-presidente de Tesouraria do Banco WestLB do Brasil, Flávio Farah, comenta que o mercado financeiro tem separado claramente os processos político e econômico, distintos. Segundo ele, o mercado se apega aos fundamentos econômicos, embora esteja convencido de que a questão política é séria, com desdobramentos imprevisíveis, porque novas denúncias podem surgir das investigações em várias frentes.

O quadro de indicadores domésticos positivos combinado com o cenário internacional altamente favorável, com ampla oferta de recursos e aversão ao risco ainda baixo para os países emergentes, tem levado o capital externo a procurar novos tipos de investimento, analisa Farah. Para ele, a persistente alta dos juros dos títulos do Tesouro americano de dez anos, os T-Bonds, referência para os mercados, para um nível acima de 4% ao ano - fechou sexta-feira em 4,39% - não é preocupante, porque é uma correção técnica ligada ao crescimento da economia americana e mundial. "Seria ruim se fosse por causa da inflação", comenta. "Apesar dessa correção técnica, o quadro externo é benigno, o que é muito positivo para o cenário interno de incertezas políticas."

O principal evento externo nesta semana é a reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) que vai deliberar sobre os juros amanhã. A idéia é de reajuste de mais 0,25 ponto porcentual, o que elevaria o juro de curto prazo de 3,25% para 3,50% ao ano.

Internamente, os indicadores de inflação que serão divulgados ao longo da semana serão determinantes para os prognósticos do mercado sobre a decisão do Copom na próxima semana. Amanhã será conhecido o IPCA (referência da política de metas de inflação do Banco Central) de julho, estimado pelo mercado entre 0,25% e 0,30% - o de junho apontou uma deflação de 0,02%; e, na quarta, a primeira prévia do IGP-M de agosto que, estima o mercado, deve registrar variação próxima de zero. Na avaliação de Farah, a inflação está sob controle, mas o ritmo de crescimento da economia tende a retardar o início da redução do juro, previsto por ele para setembro, com corte de 0,50 ponto porcentual.

No câmbio, a expectativa é com a possível volta das compras de dólar pelo Tesouro. "Mas, a menos que se agrave a crise política, eventuais compras não seriam suficientes para impulsionar uma alta, apenas evitariam uma queda mais acentuada de preços."