Título: Cartões predominam no comércio
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

Setenta por cento das transações no varejo são feitas com cartões de crédito, débito e de lojas

Os cartões de crédito, débito e de lojas já respondem por 70% das transações realizadas pelos consumidores, ante 30% dos pagamentos efetuados com cheque. A proporção é praticamente inversa do que ocorria há 6 anos, quando a fatia do cheque era de 65% e os cartões representavam 35% das transações, revela estudo exclusivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). A pesquisa mostra que número de transações com cartões acumuladas em 12 meses até junho deste ano somou 3,5 bilhões, mais que o dobro do volume de cheques emitidos por pessoas físicas no mesmo período, que foi de 1,5 bilhão.

Também em valores movimentados, o cartão passou a perna no cheque. Em 12 meses encerrados em junho, o faturamento dos cartões de débito, crédito e de loja faturaram R$ 187 bilhões, ante R$ 155 bilhões movimentados pelos meio de cheques. O primeiro semestre deste ano fechou com 298 milhões de plásticos no mercado brasileiro, dos quais 153 milhões de cartões de débito, 55 milhões de crédito e 90 milhões de cartões de lojas.

"O primeiro tiro de misericórdia no cheque foi o cartão parcelado sem acréscimo dado há dois anos. O segundo será o cartão de débito pré-datado", prevê o diretor de Marketing da entidade, Antonio Luiz Rios. Ele argumenta que esse será o alvo do setor para o ano que vem com objetivo de desbancar o velho cheque pré-datado.

Já existem experiências do cartão de débito pré-datado, pondera Rios. Mas falta amparo legal que garanta a execução da dívida no caso de inadimplência desse meio de pagamento.

Mesmo sem o cartão de débito pré-datado, o executivo prevê crescimento de 30% no número de transações com cartões, em geral para este ano. O primeiro semestre fechou com um volume de 1,7 bilhão de negócios, 28% a mais do que no mesmo período de 2004. "Se a taxa de juros estivesse mais baixa, poderíamos crescer mais."

De toda forma, Rios acrescenta que há espaço para ampliar o uso do dinheiro de plástico. No caso do cartão de crédito, o foco é a camada de menor poder aquisitivo. Já o território para ser ocupado pelo cartão de débito é mais vasto, inclui a classe média e a população de baixa renda.

Um sinal de que os hábitos mudaram e o cartão, especialmente de crédito, se popularizou foi dado pelas grandes redes varejistas. As Casas Bahia, templos do consumo popular, se renderam aos cartões de crédito em setembro de 2002. Hoje essa forma de pagamento responde por 14% do faturamento.

Nas Lojas Cem, uma das últimas grandes redes de varejo que decidiu adotar essa forma de pagamento, em novembro do ano passado, o cartão detém 9% das vendas. "O cartão tomou o lugar do pré-datado sem juros, que em novembro do ano passado respondia por 5% das vendas e hoje é dono de uma fatia de 1%", diz o supervisor-geral, Valdemir Colleone.

Para o executivo, a participação dos cartões, a médio prazo, não deverá superar 12% das vendas. Ele diz que a decisão de passar a aceitar o cartão foi tomada na expectativa de atrair novos clientes. Houve, no entanto, uma migração de meios de pagamento, do pré-datado para o cartão de crédito.

CRITÉRIOS

O estudo da Abecs tomou o cuidado de ter critérios rígidos para comparar dados que dizem respeito somente aos meios de pagamento usados por consumidores, explica o consultor da entidade e responsável pela pesquisa, Boanerges Freire.

Para obter essa amostra, no caso do cheque, ele levou em conta apenas os documentos emitidos abaixo do valor limite para efeito de compensação do Banco Central (BC), que é de R$ 299,99. "O volume total de cheques não é um indicador adequado neste caso, porque inclui as transações de consumidores e de empresas", diz o consultor.

Freire observa que o cartão roubou também uma fatia das transações liquidadas em dinheiro vivo, que é o grande meio de pagamento. Um estudo feito pela consultoria Boanerges & Cia., especializada em varejo financeiro da qual Freire é sócio, mostra que, em 2000, o dinheiro respondia por 52% do consumo das famílias, o cheque por 26% e o cartão, 11%. Hoje ele calcula que a participação do numerário no consumo privado é inferior a 50%, o cheque feche o ano com fatia de 18% a 20% e o cheque recue para 11%.