Título: Lucro das abertas cresce 52,7%
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Alta das commodities, exportações e queda do dólar aumentaram ganhos das companhias listadas na Bovespa, no 1.º semestre

Os balanços das empresas de capital aberto estamparam lucros recordes no primeiro semestre deste ano, apesar dos sinais de desaquecimento da economia. Levantamento da Economática com 53 companhias com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que já apresentaram os resultados, mostra que o lucro líquido desse conjunto de empresas teve um crescimento real, já descontada a inflação, de 52,7%, de R$ 6,5 bilhões para R$ 9,9 bilhões. Vários fatores contribuíram para o resultado positivo, como a alta de algumas commodities, aumento das exportações e a desvalorização do dólar.

Com o câmbio fortalecido, as despesas financeiras das companhias endividadas em moeda estrangeira recuaram drasticamente, de R$ 5,3 bilhões, no primeiro semestre de 2004, para R$ 596 milhões este ano. O presidente da Economática, Fernando Exel, diz que a queda dessas despesas é resultado do câmbio na casa de R$ 2,35 no final deste semestre, ante R$ 3,10 em junho do ano passado.

Com isso, o endividamento das empresas também recuou, de R$ 74,9 bilhões para R$ 63,8 bilhões.

Mas o presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, atribui essa queda também à melhora da atividade econômica no ano passado. "Com o faturamento maior, sobrou mais dinheiro para as empresas pagarem parte de suas dívidas este ano", argumentou.

A Braskem, por exemplo, reduziu seu endividamento bruto em 35,2% em relação a igual período do ano passado, segundo o levantamento da Economática. Isso permitirá que nos próximos anos a geração de caixa da companhia seja significativamente superior à soma dos vencimentos da dívida e dos recursos necessários para fazer frente aos investimentos, avalia Paul Altit, vice-presidente da companhia - que até agora teve o quinto maior lucro líquido (R$ 633,8 milhões) do semestre.

Na média, o potencial de pagamento das empresas de capital aberto também melhorou. A relação dívida financeira/lucro operacional subiu de 19,6% para 25,6% neste semestre, demonstrando uma vigorosa folga para pagamento dos serviços da dívida.

Esse índice indica que, para cada R$ 100 de dívida, as empresas conseguiram gerar R$ 25,6 de lucro operacional (antes dos juros e impostos). O levantamento da Economática mostra ainda que a receita líquida do conjunto de 53 empresas listadas na Bolsa paulista teve aumento real de 10,4% e alcançou R$ 101,4 bilhões.

Boa parte desse crescimento veio das empresas exportadoras, que continuam superando as expectativas do mercado quando o assunto é comércio exterior, afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Antonio Rocca, sócio da Risk Office Consultoria.

De janeiro a junho, a balança comercial acumulou um saldo de US$ 19,7 bilhões, resultado de exportações no valor de US$ 53,7 bilhões e importações de R$ 34 bilhões. Nesse período, as vendas externas cresceram 23,95%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Na Gerdau, empresa do setor de siderurgia e metalurgia, 61,8% do faturamento registrado no primeiro semestre foi proveniente de receitas em dólares (exportações a partir do Brasil e receita das empresas no exterior).

Em apresentação do balanço, o vice-presidente sênior da empresa, Frederico Gerdau Johannpeter, destacou que o grupo aumentou não só o volume de exportação como os seus preços médios internacionais, o que ampliou a lucratividade do negócio.

No primeiro semestre, as exportações do grupo a partir do Brasil somaram 1,5 milhão de tonelada e US$ 628,1 milhões, aumento de 11,9% em volume físico e 23,3% em receita. Nesse período, segundo a empresa, os preços médios internacionais dos produtos Gerdau cresceram 15% em dólares.

A companhia ocupa a liderança do ranking dos maiores lucros líquidos do semestre até agora, com ganho de R$ 1,4 bilhão.

Em segundo lugar ficou a Telefônica (R$ 1,16 bilhão), seguida pela Cemig (R$ 1,04 bilhão) e Aracruz (R$ 693 milhões).

CRESCIMENTO TÍMIDO

Mas, apesar dos bons números dos balanços no primeiro semestre, o levantamento da Economática mostra que o lucro operacional (antes de juros e impostos) não cresceu na mesma intensidade que o resto das contas, como receitas líquidas e lucro líquido.

No ano passado, o ganho operacional somou R$ 15,8 bilhões e neste primeiro semestre, R$ 16,3 bilhões - aumento de apenas 3,3%.

Rocca, da Risk Office, afirma que o resultado é decorrente de uma economia menos favorável comparada ao ano passado. Com isso, as margens foram apertadas. "Houve choque de custos em alguns setores, como petroquímica, aço e agronegócio", argumentou.

No setor de telefonia móvel, por exemplo, os gastos para a conquista de novos clientes aumentaram consideravelmente, completou o analista do ABN Amro Real Corretora José Cataldo.

"Eles acabam vendendo aparelhos a preço de banana para conquistar novos usuários. Isso significa custos", comentou.

Com o crescimento menos vigoroso do lucro operacional, a margem operacional caiu de 17,2% no ano passado para 16,1%, neste ano.

Ou seja, para cada R$ 100 de faturamento, as empresas conseguiram R$ 16,1 de lucro operacional.