Título: Dirigentes do PT negam ter feito pagamentos a Junqueira
Autor: Expedito Filho e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A14

A direção do PT em São Paulo e a direção nacional do partido negam que tenham mantido contrato com o escritório do advogado Aristides Junqueira para a defesa da legenda no caso Celso Daniel, prefeito de Santo André morto em janeiro de 2002. O presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, reconheceu em nota ter contratado "os serviços do dr. Aristides Junqueira, para defesa institucional do PT", mas isentou o diretório estadual da "responsabilidade pelo pagamento" e deu a entender que os serviços nunca foram prestados. Na mesma linha, o presidente nacional do PT, Tarso Genro, declarou que não existe registro formal na legenda de qualquer pagamento ou contrato com Junqueira. O escritório de advocacia confirmou ter servido ao PT e atribuiu os pagamentos ao ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. O escritório Junqueira Alvarenga e Fonseca Advogados S/C recebeu R$ 545 mil da SMPB Comunicações Ltda, do publicitário Marcos Valério de Souza, pela defesa "institucional" do PT no caso Celso Daniel. A informação foi dada à Polícia Federal pela diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, que ainda afirmou que a quantia foi parcelada em quatro vezes e Junqueira ficou sem receber R$ 50 mil. Além da ação em Santo André, teriam sido acrescentados ao pacote a defesa de dirigentes nacionais da sigla em outros casos.

Por meio de nota, o escritório confirmou ontem que prestou serviços jurídicos ao PT de setembro de 2002 a junho de 2005, quando Junqueira, constituído como primeiro advogado de defesa de Delúbio após as denúncias do mensalão, desistiu do caso. "O contrato do caso Celso Daniel, embora assinado com o diretório regional, teve pagamento providenciado por meio do Diretório Nacional através do sr. Delúbio Soares", diz o texto. O escritório repudia "qualquer tentativa de vinculação ao recebimento de quaisquer recursos sem a devida contraprestação de serviços".

Frateschi afirmou não ter recebido relatório de serviços prestados ou cobranças do escritório de Junqueira e, "diante do silêncio do advogado", concluiu que "o contrato firmado encontrava-se rescindido".

A entrada de Aristides Junqueira no caso Daniel foi anunciada em entrevista coletiva, na sede nacional do partido, pelo então presidente José Genoino. Questionado a respeito do fato, Tarso Genro insistiu que até a antiga executiva do partido, trocada após as denúncias do mensalão, não teria conhecimento do contrato. Este, segundo ele, seria outra conseqüência da "estrutura paralela" montada no PT por Delúbio. "Não há nenhuma estrutura formal do partido implicada", disse. Ele isentou Genoino na operação e, após visita ao antecessor, ontem, afirmou que o ex-presidente petista voltará à vida pública e à militância do partido. "Genoino está tranqüilo e absolutamente consciente de que é uma fase difícil, mas que vai passar e ele vai, evidentemente, revisar sua militância até agora e avaliar suas responsabilidades", contou Tarso, que define as falhas do antecessor como "omissões" no acompanhamento das "questões técnicas" do partido.

PROVA

Em Brasília, integrantes da CPI dos Correios avaliam: a notícia de que Marcos Valério custeou os advogados contratados pelo PT para atuar no caso Santo André representa uma prova de que o acusado de coordenar o mensalão era o verdadeiro pagador das contas do partido, e não apenas o provedor do caixa 2 de campanha.

Coube ao deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) uma das avaliações mais duras: "É gravíssimo o fato de que a defesa tenha sido paga por Marcos Valério porque põe o caso de volta ao centro da investigação. Além disso, demonstra, pela primeira vez, que Valério não pagava apenas contas de campanha, mas todas as contas do PT."

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que o pagamento feito por Valério só revela o quanto o governo e o PT confundiam o público e o privado. O deputado Alberto Goldman (SP), líder do PSDB na Câmara, comentou: "O importante não é mais saber o que Marcos Valério paga porque ele paga tudo. O importante é saber o que ele não pagou para o PT."

O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP), quer saber quem autorizou que Valério fizesse o pagamento da defesa. Constrangido, ele reconheceu numa conversa com amigos que o ex-tesoureiro do PT mais parecia mais "um assessor de Marcos Valério".