Título: PT vai expulsar Delúbio, mas não fará caça às bruxas
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A15

É questão de honra para a cúpula do PT expulsar o ex-tesoureiro Delúbio Soares de Castro, mas a temporada de degolas generalizadas deve ser impedida. "Não vamos fazer uma caça às bruxas indistintamente", afirmou o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini. A cautela é para proteger os companheiros que usaram o expediente de caixa 2 em suas campanhas. Até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, há 18 dias, que tudo o que foi feito pelo PT do ponto de vista eleitoral "é o que é feito no Brasil sistematicamente".

"A situação de quem sacou dinheiro para pagar dívida de campanha, e tem como comprovar, é diferente daquela de quem montou esquemas e terceirizou o partido", afirmou Berzoini.

O secretário-geral do PT enviou à bancada do partido um ofício no qual pede explicações por escrito a todos os deputados que tiveram os nomes citados por CPIs ou pelo Conselho de Ética. "Primeiro vamos ouvi-los e, depois, avaliar se é o caso de um processo disciplinar", disse Berzoini. "De qualquer forma, a sanção deve ser proporcional à falta cometida."

Na extensa lista dos que sacaram dinheiro das empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza - apontado pela CPI dos Correios como operador do mensalão - estão vários deputados e diretórios do PT.

A relação foi entregue à Polícia Federal por Simone Vasconcelos, diretora-financeira da SMPB, e inclui os deputados petistas João Paulo Cunha (SP), que presidiu a Câmara até fevereiro, Paulo Rocha (PA), João Magno (MG), Josias Gomes (BA) e Professor Luizinho (SP).

São também citados por Simone como beneficiários dos recursos o diretório nacional do PT - que teria recebido R$ 4,9 milhões - e as seções do partido no Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Rio e Santa Catarina.

RENÚNCIA

Até ontem à noite, nenhum deputado do PT manifestava a intenção de renunciar ao mandato. Muitos deles já haviam até mesmo encaminhado relatórios para o partido com suas explicações. A mais comum é a de que os recursos sacados foram usados para gastos de campanha. Marcos Valério, que repassou uma montanha de dinheiro para o PT, é hoje um desconhecido para o partido.

Delúbio disse a amigos que vai lutar até o último momento para não ser expulso. Considera que não merece o maior castigo e está servindo de bode expiatório. No mês passado, durante reunião do Campo Majoritário, um aliado de Delúbio foi taxativo: "Todos aqui receberam dinheiro para as campanhas. Não sejam hipócritas agora."

A Comissão de Ética do PT vai ouvir Delúbio no domingo. De qualquer forma, o partido já encomendou análise jurídica das conseqüências de assumir publicamente o caixa 2. Por enquanto, só Delúbio assumiu a prática, batizada por ele de "recurso não contabilizado".