Título: Israel: ministro de Finanças renuncia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2005, Internacional, p. A8

Netanyahu apresenta demissão em protesto por retirada israelense da Faixa de Gaza, que começará no dia 15

O ministro de Finanças de Israel, Binyamin Netanyahu, conhecido como "Bibi", renunciou ontem em protesto pelo plano do governo de retirar soldados e colonos da Faixa de Gaza e de partes da Cisjordânia, mas mesmo assim seus colegas de gabinete aprovaram a primeira etapa da retirada, prevista para começar no dia 15. A renúncia de Netanyahu, o principal rival do primeiro-ministro Ariel Sharon no direitista Partido Likud, provocou uma queda de 5% nos mercados locais e destacou a divisão no gabinete sobre o plano de desengajamento.

Sharon designou ontem mesmo o vice-primeiro-ministro Ehud Olmert como novo ministro das Finanças e disse que Israel continuará com sua política econômica. A retirada dos assentamentos de Kfar Darom, Netzarim e Morag - enclaves isolados onde provavelmente haverá mais resistência dos colonos judeus - foi aprovada por 17 votos. Cinco membros do gabinete votaram contra.

Netanyahu disse que sua carta de renúncia representava um voto contra. "Uma retirada unilateral, sem nada em troca não é a solução", disse Netanyahu. "Não posso tomar parte desta iniciativa irresponsável, que divide o povo e fere a segurança de Israel e no futuro representará um perigo para a integridade de Jerusalém."

Os adversários de direita vêm o plano como uma capitulação diante do levante palestino (intifada) e acreditam que abre um precedente na cessão dos territórios capturados na guerra de 1967, que também inclui Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Há tempos Netanyahu se opunha à retirada dos 21 assentamentos da Faixa de Gaza e de 4 dos 120 da Cisjordânia, apesar de a iniciativa ter o apoio da maioria dos israelenses.

Em uma entrevista coletiva, após anunciar sua demissão, Netanyahu admitiu que era improvável que sua renúncia contivesse a retirada. Ele disse que queria continuar com as "históricas" reformas econômicas, mas ao mesmo tempo sentia que não podia dar seu apoio à retirada de Gaza.

O negociador palestino Saeb Erekat disse esperar que a renúncia de Netanyahu não afete os esforços para assegurar uma retirada pacífica. "É hora de reviver nas mentes de palestinos e israelenses a esperança de que a paz é possível", declarou Erekat à TV americana CNN.

Centenas de jovens israelenses protestaram ontem contra a retirada no assentamento de Gush Katif, sul de Gaza. Os colonos desse assentamento pediram ontem aos cinco ministros do Likud que sigam o exemplo de Netanyahu e renunciem. Na Cisjordânia, homens armados dispararam contra um israelense e seu filho de 10 anos que estavam em um automóvel perto do assentamento judaico de Ateret. Os dois ficaram feridos e segundo fontes médicas o estado do menino era crítico.

EXTREMISTA

O militante judeu extremista que matou quatro árabes-israelenses na quinta-feira foi enterrado ontem em sua cidade natal, apesar do temor de que seu túmulo se torne um ponto de peregrinação para ativistas de extrema-direita. Dezenas de extremistas, entre eles alguns do proscrito movimento Kach, foram ao funeral em Rishon Lezion de Eden Nathan Zaada, de 19 anos, que desertara do Exército em protesto pela retirada israelense de Gaza. Ele abriu fogo dentro de um ônibus na cidade árabe de Shefaram, matando quatro pessoas e foi linchado. A polícia israelense deteve três ativistas que foram ao enterro por estarem envolvidos em agressões contra árabes.