Título: BNDES busca sugestões para melhorar economia
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

A diretoria do BNDES iniciou ontem uma série de reuniões com economistas para receber sugestões que, segundo o presidente da instituição, Guido Mantega, poderão "aperfeiçoar" a política econômica. Um almoço com o deputado Delfim Netto (PP-SP) resultou na defesa de uma melhor qualidade do ajuste fiscal, mudança do perfil da dívida pública e política monetária "mais adequada". Mas, garantiu Mantega, não há "conflito ideológico" com a equipe econômica, que recebeu elogios do presidente do banco. Para Mantega, o Brasil vive "condições inéditas para um crescimento vigoroso", mas os juros precisam cair mais rapidamente para acelerar a expansão da economia. Para permitir a queda, afirma, é preciso melhorar a eficiência das despesas de custeio do governo, o que resulta em maior qualidade para o ajuste fiscal sem elevação do superávit primário. Além disso, sugere o alongamento da dívida pública e mais investimentos. Mantega acredita ser preciso encontrar um caminho de controle da inflação sem juros "tão elevados", o que seria possível com as iniciativas sugeridas.

O ajuste fiscal em curso, diz Mantega, "é consistente, mas pode ser melhorado" - e essa melhoria não inclui o aumento do superávit primário, mas a redução de despesas de custeio, como compras governamentais e da Previdência. "O governo tem de fazer ajuste, por exemplo, na Previdência, com o tal choque de gestão que, aliás, já está sendo feito, e ampliar a eficiência das compras governamentais e contratação de serviços, preservando os gastos sociais."

MOMENTO

A reunião com Delfim, disse, resultou na conclusão de que o Brasil está em momento muito propício para acelerar o crescimento. Ele afirmou que, nesse contexto, "não queremos mudar a política (econômica) em vigor, mas aperfeiçoar essa política, crescer 5% ao invés de 3,5%". Como exemplo das boas condições para um crescimento sustentado, citou a "modernidade da estrutura produtiva brasileira, pronta para responder aos desafios da competição mundial". Para ele, "prova disso é o bom desempenho apesar do limite do câmbio e da taxa de juros desfavorável".

Mantega lembrou ainda as condições internacionais, benéficas para o crescimento brasileiro, e a estabilidade institucional e fiscal. "Com esse quadro, o País está pronto para crescer, mas hoje esbarra em taxas de juros muito elevadas, que permitem um crescimento de 3%, 3,5% e não mais que isso, além do câmbio, que impede um salto maior da exportação."

O juro real (taxa Selic menos inflação em 12 meses) ideal para o Brasil hoje seria de 3% a 5%, "como os dos nossos competidores" e não os 14% atuais. Segundo Mantega, a reunião com Delfim foi a primeira de uma série de discussões com economistas no banco.

VIRADA

Na próxima terça-feira, haverá um seminário com a presença de especialistas, que coincidirá com o lançamento de um novo boletim do BNDES, com ênfase nos investimentos.

Para Antonio Barros de Castro, diretor de Planejamento do banco, o Brasil está em momento de transição da estagnação para o crescimento. "A economia brasileira de uns tempos pra cá está mostrando sinais contraditórios: ora parece que vai péssima, ora que não vai mal. Esse quadro contraditório é sintomático de uma transição da estagnação para o crescimento, estamos na virada."