Título: 'Pistas poderão levar ao presidente'
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2005, Nacional, p. A5

Jefferson afirma que há possibilidade de Lula ser implicado tanto na investigação da Portugal Telecom como nas ações da Secom

O deputado Roberto Jefferson, (PTB-RJ) admitiu ontem, pela primeira vez, a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar envolvido no escândalo do mensalão. Ao tratar do assunto ele repetiu diversas vezes estar convencido de que Lula é inocente ("prefiro crer na inocência dele") e garantiu que manterá esse julgamento "até que alguém aponte a nudez" do presidente. Mas ao mesmo tempo apontou duas linhas de investigação que poderão revelar o eventual envolvimento de Lula. Em entrevista à TV Tarobá, de Cascavel, no Paraná, Jefferson afirmou que a primeira linha de investigação envolve o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza , o deputado José Dirceu e a Portugal Telecom, que teria sido procurada para financiar o PT e o PTB em troca de vantagens junto às estatais Eletronorte e Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). "Se as pistas forem investigadas com profundidade, poderão levar ao presidente", afirmou, enfatizando logo em seguida: "Po-de-rão". Para Jefferson, se Valério se apresentou à empresa portuguesa como "consultor" do presidente Lula foi porque "alguém deu essa credencial a ele".

A teia de corrupção que aos poucos é desvendada pela CPI dos Correios está longe de chegar ao fim, assinalou Jefferson, ao apontar para a segunda linha de investigação que poderá comprometer Lula: a atuação da extinta Secretaria de Comunicação, que era comandada por Luiz Gushiken. Quando os contratos de publicidade forem investigados, "será um grande escândalo", disse ele. E arrematou: "Vocês vão ver aonde vai chegar isso".

Ao presidente? - quis saber um repórter da TV. O deputado silenciou.

'BOQUIRROTO '

Na entrevista à TV, o presidente licenciado do PTB atacou o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), que o acusou de comandar o esquema de corrupção naquela estatal. "Ele é boquirroto, falastrão e irresponsável", afirmou Jefferson, lembrando que Serraglio já teve que recuar da afirmação de que a corrupção atingiria o presidente Lula e dizer publicamente que se tratava apenas de "uma hipótese".

Jefferson isentou seu colega Alex Canziani, do PTB paranaense, que disputou a prefeitura de Londrina em 2004, do recebimento de ajuda financeira para cobrir despesas de campanha. O PL pediu na semana passada ao Conselho de Ética a cassação de Canziani sob a justificativa de que ele seria um dos destinatários dos R$ 4 milhões que Jefferson afirma ter recebido do PT para financiar a campanha de petebistas.

"Ele não recebeu, e isso eu garanto", afirmou o deputado, observando que Canziani estava relacionado no segundo lote que a direção do PTB pretendia liberar para os candidatos. Isso não ocorreu, segundo Jefferson, porque o PT descumpriu o acordo que previa o repasse de R$ 20 milhões.

COMANDANTE

Na opinião do senador paranaense Álvaro Dias (PSDB), o presidente Lula não só sabia como comandava o mensalão, o esquema montado para financiar deputados em troca de apoio a projetos do governo federal. "Além de saber, o presidente comandou todo esse processo", disse o senador ao jornal Diário do Norte do Paraná, de Maringá.

Álvaro, que faz parte da CPI dos Correios, esteve naquela cidade no sábado à noite para participar de uma cerimônia de formatura. O mensalão, disse ele, foi idealizado para possibilitar uma longa permanência do PT no poder. "Era um projeto de longo prazo articulado no Palácio do Planalto com a participação efetiva do presidente", acrescentou.