Título: Período de deflação está perto do fim
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

O custo de vida na cidade de São Paulo medido pelo Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) poderá até registrar variação negativa de 0,6% este mês por causa do fim da cobrança da assinatura básica do telefone fixo, mas o período de deflação generalizada nos índices de preços ocorrido nos últimos meses chegou ao fim. A tendência, segundo especialistas, é de uma inflação positiva, porém próxima de zero. Isso confirma a trajetória estável dos preços até o fim do ano e abre caminho para redução da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 19,75% ao ano, a partir de setembro.

Dois indicadores de inflação divulgados ontem já esboçam esse movimento. O IPC-Fipe encerrou julho com alta de 0,30%, ante deflação de 0,20% em junho. O resultado surpreendeu o coordenador do índice, Paulo Picchetti. Ele projetava inicialmente um índice zero para julho e até chegou a falar em deflação.

"O fator surpresa foi a queda menos acentuada dos preços dos alimentos", diz o economista. O grupo alimentação, que havia registrado deflação de 1,39% em junho, fechou o mês passado com queda de 0,74%. Na terceira quadrissemana de julho, o recuo havia sido de 0,96%.

Além dos alimentos, as despesas pessoais impulsionaram o custo de vida para cima, com alta de 1,35% no mês passado. Gastos com recreação e cultura, por exemplo, onde estão incluídas despesas com viagem e passagens intermunicipais, subiram 3,78% no mês passado. Em junho, a alta havia sido de 0,70%.

Despesas com transportes também pesaram no bolso do paulistano e subiram 0,59% em julho. O álcool combustível, por exemplo, aumentou 5,09% na quarta quadrissemana de julho. Na ponta, a alta desse item chega a 10,5%.

Gastos com saúde foram outro fator de pressão e cresceram 1,12% em julho, impulsionados pelos contratos de assistência médica (2,82%). Picchetti ressalta que os reajustes do planos de saúde deverão continuar a pressionar o IPC de agosto em 0,09 ponto porcentual.

O economista traça dois cenários para a inflação deste mês. O primeiro é de deflação de 0,06%, se a decisão de suspender a cobrança da assinatura de telefone fixo for mantida. O outro cenário é de um IPC-Fipe de 0,40% para agosto, caso a assinatura básica volte a ser cobrada. "Não teremos mais deflação este ano por causa do livre movimento dos preços."

IPV

Essa avaliação é compartilhada pelo assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio - SP), Altamiro Carvalho. "A deflação está se esgotando. A tendência é de uma inflação baixa, porém positiva."

O Índice de Preços do Varejo (IPV) da Fecomércio fechou o mês passado em 0,02%, ante variação de 0,16% em junho. Carvalho explica que a aparente incongruência entre o IPC-Fipe e o IPV é o fato de o segundo indicador computar apenas os preços do produtos e deixar de fora os serviços e tarifas que pressionam o custo de vida. "Se os dois indicadores fossem calculados na mesma base, eles estariam hoje no mesmo patamar", diz.

"Existe poder de compra e os preços dos serviços estão refletindo isso", afirma o economista-chefe do Banco Pátria, Luís Fernando Lopes. Ele pondera que essa aceleração do IPC-Fipe está dentro do esperado e não indica um descontrole da inflação. Ele diz que taxas mensais entre 0,30% e 0,40% são suficientes para deixar o BC à vontade para cortar a Selic a partir de setembro.