Título: Valério promete revelar chantagem de Jefferson à CPI
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/08/2005, Nacional, p. A4

Publicitário diz que contará amanhã, na CPI do Mensalão, que deputado do PTB pressionou Delúbio a dar mais dinheiro

O empresário Marcos Valério de Souza, apontado como financiador do caixa 2 do PT, já definiu a estratégia para o depoimento que fará amanhã à CPI do Mensalão. Ele pretende comprometer ainda mais o deputado Roberto Jefferson (RJ), contando ter testemunhado uma tentativa de chantagem feita pelo presidente licenciado do PTB contra o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Valério promete demonstrar, ainda, que o PTB se beneficiou tanto quanto o PT, o PP e o PL dos empréstimos tomados oficialmente em nome de suas agências de publicidade. Outro alvo de Valério será o deputado José Dirceu (PT-SP). O empresário vai dizer, pela primeira fez em depoimento formal no Congresso, que o ex-chefe da Casa Civil era o avalista político de todas operações financeiras realizadas em favor do PT e dos partidos aliados do governo Lula. Essa informação foi omitida por Valério no depoimento que deu à CPI dos Correios no dia 6 de julho, mas acabou sendo revelada em entrevista publicada pelo Estado na semana passada.

A tentativa de chantagem de Jefferson se deu, segundo o empresário, durante uma conversa com Delúbio no escritório do PT em Brasília. Valério diz ter testemunhado o petebista fazendo ameaças ao tesoureiro para receber dinheiro: "Ele queria grana." O empresário tem feito segredo sobre o que Jefferson prometia fazer caso não obtivesse os recursos, mas foi depois do episódio que o deputado denunciou a existência do mensalão. Valério conta que Delúbio chegou a prever que haveria turbulência. "Vamos ter problemas com Roberto Jefferson", teria dito o tesoureiro.

Além disso, Valério diz ter ouvido do ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri queixas de que Jefferson fazia pressão constante para conseguir mais dinheiro com a justificativa de que precisava cobrir um rombo nas contas do partido. A confissão teria sido feita por Palmieri em janeiro passado, quando ele e o empresário viajaram juntos para Lisboa.

RECLAMAÇÃO FREQÜENTE

Não procede, afirma Valério, a versão de que Jefferson tinha um bom relacionamento com seu antecessor na presidência do PTB, o deputado José Carlos Martinez (PR), morto num acidente de avião. De acordo com o dono das agências de publicidade DNA e SMPB, Martinez costumava reclamar com freqüência do comportamento de Jefferson.

O maior ressentimento de Valério, porém, não é com Jefferson, mas sim com Dirceu. De acordo com o empresário, o ex-homem forte do governo Lula não só sabia de todas as operações financeiras realizadas por suas empresas em parceria com Delúbio, como também garantia o aval político para a obtenção de empréstimos bancários. Os bancos, afirma Valério, só aceitavam conceder financiamentos porque tinham a certeza de que Dirceu estava por trás dos pedidos de dinheiro. Sempre segundo o empresário, o ex-ministro também era informado dos repasses feitos aos partidos políticos.

Valério diz que não revelou desde o início tudo o que sabe porque resolveu atender a um apelo de Delúbio, que lhe pediu que moderasse o tom das denúncias. O homem que vem sendo comparado ao empresário PC Farias alega que considera Delúbio o único integrante da cúpula do PT que mostrou solidariedade: "Eu não me arrependo de nada que eu e ele fizemos juntos."

Para ele, o ex-tesoureiro é disciplinado e nada mais fez do que cumprir ordens dos chefes petistas. "Delúbio é um homem de uma fidelidade canina", afirma Valério.