Título: Daniel Dantas, de novo no centro da crise
Autor: Vera Rosa e Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2005, Nacional, p. A4

Há sete anos, um dos argumentos para vender o Sistema Telebrás foi livrar as operadoras da influência política. Não deu certo. O governo continua presente, via fundos de pensão e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e os esforços da administração Lula para enquadrar as agências reguladoras só pioraram a situação. Com isso, empresas de telecomunicação ganham evidência com o desenrolar da crise política. No centro de tudo está o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, protagonista da maior disputa societária que o País conheceu. As empresas sob seu controle - Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular - foram as que mais pagaram à DNA e à SMPB, as agências de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, o homem que coordenava as operações financeiras irregulares que abasteciam o PT e outros partidos políticos.

A Portugal Telecom foi visitada por Valério por causa de sua participação de 50% na Vivo. A Vivo chegou a negociar a compra da Telemig Celular, pois não está presente em Minas, e despertou o interesse do publicitário. Sozinhos, os portugueses também avaliaram comprar a Brasil Telecom.

Dantas está sendo afastado do controle das operadoras, que exercia como administrador de fundos, depois de brigar com todos os sócios. Os principais são o americano Citigroup, maior banco do mundo, e o Previ, fundo dos funcionários do Banco do Brasil. As disputas ocorrem nas mais diversas arenas: tribunais brasileiros e estrangeiros, agência reguladora, autoridade do mercado acionário, escritórios de espionagem e no próprio governo.

Pessoas próximas a Dantas contam que as rusgas com os fundos começaram quando Luiz Gushiken assumiu a Secretaria de Comunicação de Governo da Presidência, onde já não está. Segundo essa versão, Gushiken enfrentou a oposição do ex-ministro José Dirceu e o do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que seriam favoráveis à posição de Dantas na queda-de-braço com os fundos.

Mas a verdadeira história é outra. A briga com os fundos começou antes, em 2000, durante o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, ao mesmo tempo em que o PFL da Bahia se afastava do governo. Contra a afirmação de que Dantas teria apoio de Dirceu e Palocci, pessoas próximas do governo lembram que as visões de Dirceu e Palocci dificilmente coincidiam e, se coincidissem, não haveria Gushiken capaz de fazer frente aos dois juntos.

Além disso, o Banco do Brasil e, portanto, o Previ estão no campo de influência da Fazenda. O que parece ser fato é apenas o atrito entre Dirceu e Gushiken.

O Citigroup e os fundos planejam vender suas operadoras este ano. A principal candidata à Brasil Telecom é a Telecom Italia, dona da TIM, que, depois de lutar contra Dantas desde 1999, fechou acordo com ele em abril, em que pagaria 341 milhões para voltar ao controle da Brasil Telecom, que deixara por problemas regulatórios.

Ao perder o apoio do Citigroup, em março, a situação do Opportunity nas empresas ficou insustentável. Hoje, fundos e Citi questionam o acerto entre Dantas e os italianos. A Telecom Italia foi aos tribunais contra um acordo em que os fundos se comprometem a comprar a participação do Citi na Brasil Telecom por R$ 1,045 bilhão, a partir de setembro de 2007. A avaliação passou a ser o piso para a venda.