Título: Conexão do Opportunity com Valério é o novo alvo da CPI
Autor: Vera Rosa e Sheila D'Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2005, Nacional, p. A4

A CPI dos Correios está empenhada em desvendar a conexão do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, com o esquema montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. O Opportunity é sócio de duas empresas telefônicas - Amazônia Celular e Telemig Celular - que foram as maiores depositantes nas contas das agências de publicidade de Valério. As companhias alegam que os depósitos foram absolutamente legais e corresponderam ao pagamento por serviços publicitários. Mesmo assim, Dantas será um dos próximos convocados a depor na CPI. "É apenas uma questão de tempo. Nossa linha de investigação já chegou nas empresas de Dantas", diz o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), integrante da CPI. Até agora, os dados parciais produzidos pela quebra do sigilo bancário mostram que, apenas nas contas da DNA no Banco do Brasil, as duas telefônicas depositaram, do início de 2000 até junho passado, exatos R$ 127.407.856,91. Do total, R$ 75,9 milhões foram depositados durante o governo Lula.

As próprias companhias já informaram que os valores são ainda maiores. Contabilizados pelas empresas só até março deste ano, chegam a R$ 145 milhões. Informam ainda que as cifras correspondem a 2,7% de sua receita, o que representa um gasto com publicidade inferior ao das concorrentes. O presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirma que todas as informações das empresas serão checadas: "Tudo vai ser investigado e nada ficará sem resposta".

Na semana passada, parlamentares da CPI estiveram com técnicos da Receita Federal que apontaram indícios de que os valores pagos pelas empresas telefônicas às agências de Valério não batem com o declarado ao fisco. "O valor transferido é desproporcional ao que as empresas declararam", diz Fruet. A Telemig Celular e a Amazônia Celular negam qualquer irregularidade tributária e informam já ter entregue voluntariamente à CPI todas as notas fiscais referentes aos pagamentos feitos à DNA e à SMPB. Em 15 dias, a comissão terá concluído o cruzamento dos dados.

CONSULTA A ACM

À medida que se tornou inevitável a convocação de Dantas, a cúpula da CPI passou a se preocupar com o potencial explosivo de seu depoimento. Emissários chegaram a consultar o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), velho amigo do banqueiro. Acharam que poderiam encontrar resistência. Enganaram-se. "Dantas é muito inteligente, mas não faz nada pela Bahia", disse ACM. "Façam o que for necessário."

É cada vez mais evidente para a CPI que boa parte dessa história tem como pano de fundo uma briga entre o ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP), e o ex-ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, hoje coordenador do Núcleo de Assuntos Estratégicos. Gushiken é inimigo de Dantas e o considera uma "figura perigosa e nefasta". Não sem motivo: a maior guerra do dono do Opportunity foi pelo controle da Brasil Telecom e terminou em arapongagem. Um dos grampeados foi justamente Gushiken. Dantas acabou indiciado pela Polícia Federal por envolvimento com a espionagem feita pela Kroll.

Na época, estavam sob a alçada de Gushiken as verbas de publicidade e também dos fundos de pensão. Dantas queria obter apoio dos fundos para se manter no controle das empresas telefônicas, incluindo a Brasil Telecom, numa rumorosa disputa com a Telecom Itália. Gushiken, porém, defendeu a posição do presidente da Previ, Sérgio Rosa, e os fundos de pensão, aliados ao Citigroup, destituíram o dono do Opportunity.

Dantas e seu sócio Carlos Rotenburg se aproximaram do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e de Dirceu por meio de Valério. Em conversas reservadas, muitos petistas contam que a dupla Dirceu-Delúbio fez de tudo para ajudar o banqueiro. Só que Gushiken venceu o embate. "Na discussão da origem desses recursos, vamos entender melhor essa briga", avalia o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).