Título: PT suaviza autocrítica e ataca 'estratégias oportunistas da direita'
Autor: Luciana Nunes LealWilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2005, Nacional, p. A8

O Diretório Nacional do PT aprovou ontem uma autocrítica branda aos erros cometidos pelo partido no escândalo do mensalão. Em resolução aprovada em reunião de que participaram 61 integrantes do diretório, o partido defende "apuração rigorosa" e "punições, inclusive no âmbito partidário", mas prefere concentrar ataques "às estratégias oportunistas da direita que quer abreviar o mandato popular, legal e legítimo do presidente Lula". O documento, escrito pelo Campo Majoritário, tendência que comanda o partido e à qual estão vinculados os principais dirigentes petistas envolvidos com o esquema financeiro do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, foi classificado de "pífio" e "extremamente tímido" pelo deputado Chico Alencar (PT-RJ), um dos integrantes da ala esquerda do partido.

A resolução do Diretório reconhece que o PT "passa por um dos momentos mais delicados da sua história, afetado por uma crise que emergiu de dentro da sua própria estrutura". No seu sétimo parágrafo, menciona que "o PT não pode deixar de assumir seus próprios erros''. Mas faz questão de ressaltar que "também está em curso um processo difamatório montado contra a totalidade do PT e suas lideranças e contra o governo, que visa aniquilá-lo". "Este processo pretende retirar o partido da cena pública", assinala o documento, lido na reunião pelo secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini, um dos seus co-redatores, ao lado do assessor especial da Presidência, Marco Aurélia Garcia.

Ao ser aprovado, em votação que contou com a participação de 56 integrantes do diretório, o texto teve o voto de 29 integrantes do Campo Majoritário. Mais severas na expiação de culpas do partido, duas outras resoluções preparadas pelas correntes de esquerda não tiveram votos suficientes para serem aprovadas. Um documento, apresentado em conjunto pela Articulação de Esquerda e pelo Movimento PT, teve 14 votos, enquanto outro preparado pelo Bloco Parlamentar de Esquerda e pela Democracia Socialista conseguiu 11 votos. Um quarto texto, preparado pelo grupo trotskista O Trabalho, teve dois votos.

"O documento é parcial. O Campo Majoritário está resistindo a fazer a autocrítica dos seus métodos e dos seus próprios erros", disse a deputada Maria do Rosário (RS), candidata do Movimento PT à presidência do partido. Derrotada na discussão sobre o mea culpa petista, a esquerda obteve pelo menos uma vitória: o Campo Majoritário desistiu de pedir o adiamento das eleições internas, mantidas para 18 de setembro.

As resistências do Campo Majoritário - em particular do grupo vinculado ao ex-ministro José Dirceu e ao ex-tesoureiro Delúbio Soares - a um reconhecimento abrangente de culpas já haviam surgido na reunião da tendência realizada na sexta-feira, quando as propostas do presidente do PT, Tarso Genro, para um amplo processo de depuração interna foram recebidas com frieza. As desconfianças voltaram a emergir na reunião do Diretório, realizada em clima tenso por causa das incertezas em relação ao que ainda pode vir a surgir dos documentos guardados pelo empresário Marcos Valério.

O deputado Chico Alencar chegou a propor um "pacto de franqueza", em que todos abrissem seu grau de envolvimento no esquema Valério-Delúbio. "Não podemos ficar reféns de fatos que nos atropelam", pediu. A proposta teve a adesão de Marco Aurélio Garcia, assessor da Presidência da República. "Vamos acabar com a hipocrisia. Todo mundo é responsável, por erro ou por omissão", disse Marco Aurélio.