Título: PT e PP devem liderar as baixas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2005, Nacional, p. A10

Não bastasse o imenso estrago já sofrido, com a queda de toda a sua cúpula nas últimas três semanas, o PT é o partido mais exposto a sofrer punições da CPI dos Correios, numa primeira leva que o relator, Osmar Serraglio (PMDB-PR), promete anunciar daqui a dez dias. Já chega a 18 nomes, que ele ainda não divulgou, a lista de deputados contra os quais há provas ou indícios de quebra de decoro - mas um balanço da enxurrada de denúncias das últimas duas semanas aponta 15 nomes fortemente implicados, que muito provavelmente estarão com a cabeça a prêmio. Sete são petistas e 4 são do PP, mas há também nomes do PMDB, PTB e PL. Um dos ameaçados, até seis semanas atrás o mais poderoso ministro do governo Lula, é José Dirceu (PT-SP) - cuja situação se agravou depois da terçafeira, quando ele depôs ao Conselho de Ética da Câmara. Com muitos inimigos no Congresso - alguns deles dentro de seu partido -, e o anúncio da Assessoria Jurídica de que é possível punilo por atos que praticou mesmo fora da Câmara, Dirceu é a mais ilustre figura exposta ao risco de cassação. Ele se juntaria a outros petistas tirados do comando do partido - o presidente José Genoino, o tesoureiro Delúbio Soares, o secretário-geral Silvio Pereira e o secretário de Comunicação, Marcelo Sereno.

Para senadores e deputados que o interrogaram no Conselho de Ética da Câmara, e também para os da CPI dos Correios, que acompanharam de perto a sessão da terça-feira, Dirceu escorregou várias vezes. A principal delas, quando disse que não se havia encontrado no Planalto com representantes da Portugal Telecom.

Essa versão caiu em 24 horas.

A agenda do ex-ministro-chefe da Casa Civil, como se noticiou no dia seguinte, registra que houve, sim, no dia 11 de janeiro, um encontro entre ele e Ricardo Espírito Santo Silva, o presidente do Banco Espírito Santo no Brasil. O BES é o principal acionista da Portugal Telecom, onde detém pouco menos de 10% das ações.

Mais à frente, Dirceu tentou reparar sua fala, mas deu informações imprecisas. Foi por nota oficial, na qual diz que não negou o encontro com o BES. Indagado pelo deputado Cesar Schirmer (PMDB-RS) sobre encontros com a Portugal Telecom, respondeu: 'Nos termos que o deputado Roberto Jefferson colocou, eu não tenho nada a ver, não participei do que ele está dizendo. Se eu recebi ou não a Portugal Telecom (...) é uma outra questão.' No dia 24 de janeiro viajaram para Portugal, para um encontro com dirigentes da Portugal Telecom, o empresário Marcos Valério, o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, e o advogado Rogério Tolentino, sócio de Valério. A idéia era negociar uma operação financeira pela qual o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) aplicaria R$ 800 milhões no BES. A comissão, de 3%, daria R$ 24 milhões, que PT e PTB dividiriam igualmente, podendo assim pagar suas dívidas e fazer caixa.

ABATIMENTO

Mais que Dirceu, o candidato praticamente imbatível na lista dos cassáveis é o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que confessou, diante do Conselho de Ética, ter recebido R$ 4 milhões do PT para gastos de campanha, sem nada declarar à Justiça Eleitoral. Outro que está em situação muito ruim é o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Ele não conseguiu ainda explicar por que sua mulher, Márcia Regina, retirou R$ 50 mil da conta de Valério no Banco Rural. João Paulo anda muito abatido. Para piorar a situação, a CPI comprovou que Valério pagava todo mês R$ 20 mil para sua assessoria, feita pelo jornalista Luiz Costa Pinto.

Além dele, outros cinco petistas têm contra si acusações comprovadas em relatórios de Valério cruzados com a movimentação revelada pelo Coaf.

São o ex-líder do partido na Câmara Paulo Rocha (PA), o ex-líder do governo Professor Luizinho (SP), João Magno (MG), Josias Gomes (BA) e José Mentor (SP), que recebeu R$ 120 mil das empresas de Valério e foi acusado pela secretária Fernanda Karina Somaggio de lhe passar informações privilegiadas quando era relator da CPI do Banestado. Estão muito ameaçadas, também, importantes figuras do PP. A começar pelo seu presidente nacional, Pedro Correa, e pelo líder do partido na Câmara, José Janene (PR), acusado de receber pelo menos R$ 4,1 milhões. Além deles, Vadão Gomes (PP-SP) teria sacado R$ 3,7 milhões. Há também graves indícios, ou provas, implicando os deputados Carlos Rodrigues (PLRJ), Wanderval Santos (PLRJ), Pedro Henry (PP-MT), José Borba (PMDB-PR) e Romeu Queiroz (PTB-MG). Todos eles por terem recebido dinheiro do suposto esquema.