Título: Setor aéreo cresce a taxas recordes
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2005, Economia & Negócios, p. B5
O setor aéreo nunca cresceu tanto como agora. A entrada de novas empresas no mercado e sucessivas guerras tarifárias estão contribuindo para que o setor cresça, em número de passageiros transportados, para níveis superiores à média histórica, que é de duas vezes o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Depois de não crescer nada em 2002 e de registrar queda de 6% em 2003, o setor começou a se recuperar no ano passado, com crescimento de 12%. Este ano, já cresceu 14,5% no primeiro semestre e a expectativa dos analistas é de expansão de 15% a 17% no ano. Outros, mais otimistas, falam em até 20%, enquanto a previsão para o PIB está entre 3% e 3,5%.
"O ano passado serviu para recuperar a perda do ano anterior. Agora estamos efetivamente registrando um crescimento consistente", afirma um analista do Departamento de Aviação Civil (DAC). Em números absolutos, as empresas de aviação regular transportaram 28,2 milhões de passageiros no ano passado. De janeiro a junho, já foram 15,2 milhões.
A alta acima da média histórica é fruto de um ambiente mais competitivo e reflete o aumento de demanda provocado pela redução das tarifas. Levantamento do DAC sobre a evolução da tarifa média cobrada pelas empresas aéreas mostra relativa estabilidade ao longo dos últimos dez anos. As tarifas acompanharam o índice de inflação IGP-DI e ficaram bem abaixo dos custos de combustíveis e da variação cambial.
"A competição tem ajudado não apenas a segurar os preços, mas também tem levado as empresas a adotar medidas de redução de custos", diz um analista do DAC. Nem mesmo a reintrodução de medidas restritivas, em março de 2003, após praticamente uma década de medidas liberalizantes, foi capaz de alterar o clima de competição.
"A guerra de tarifas está gerando uma demanda nova", avalia o coordenador do Núcleo de Estudos da Competição e Regulação do Transporte Aéreo (Nectar), do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), Alessandro de Oliveira. "Há novos passageiros no mercado, mas, principalmente, quem já voa com regularidade está voando mais."
Tradicionalmente, estima-se que cerca de 75% das viagens feitas no Brasil sejam realizadas a negócio. Não há estudos para comprovar, mas o DAC avalia que, nos últimos dois anos, a parcela de passageiros que viaja a lazer - e que é, por natureza, mais sensível a preço - vem aumentando. Essa é uma tendência mundial, de longo prazo, na medida em que o avanço das telecomunicações permite a realização de negócios sem a presença física.
Nos últimos meses, as empresas aéreas travaram uma disputa acirrada de preços. O fim da alta temporada, aliado à entrada de novos competidores, como a Webjet, em julho, acirraram a competição. No segundo trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2004, as tarifas da TAM caíram, em média, 9,2%. As da Varig, 7% e as da Gol, 3,6%.
"A precificação no setor é cíclica, acompanhando a sazonalidade da demanda", explica Oliveira. "As empresas reduzem preço por estarem com capacidade ociosa e também para se posicionarem diante de novos competidores."
Ainda que a guerra de tarifas, aliada à alta do combustível de aviação, tenha afetado o balanço das principais empresas do setor, ela serviu para manter as aeronaves ocupadas. A taxa de ocupação média hoje está em 67%. O nível considerado saudável pelo DAC é 65%. Para o próximo trimestre, porém, as empresas já estão recompondo suas margens. A Varig já anunciou aumentos de 10%, enquanto a Gol e a TAM devem anunciar reajustes nesta semana.
Com as taxas de ocupação saudáveis e as tarifas competitivas, o DAC tem deixado o mercado caminhar com as próprias pernas - ainda que estejam em vigor portarias que permitam regular a oferta. "Nos mercados de alta densidade, não há controle de oferta. Quem solicitar linhas novas, leva", diz um diretor do DAC.
Mercados de alta densidade são os com demanda de pelo menos 50 mil passageiros por ano. Esses mercados representam 50% da malha do País e concentram 93% do tráfego aéreo. Nos demais mercados, de baixa densidade, o controle permanece.
Em março de 2003, a importação de cada aeronave era controlada de perto pelo DAC. Agora, a análise é feita em cima do planejamento de crescimento das próprias companhias para um período de 12 meses. "A política é de liberação de oferta. Avaliamos apenas os requisitos de segurança e infra-estrutura", diz o DAC.