Título: Negociação de ajuda a agricultores recomeça
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, retoma nesta semana as negociações com a área econômica do governo para ampliar o pacote de ajuda aos agricultores, que deixaram de colher cerca de 20 milhões de toneladas de grãos por causa da seca. Isso significa uma perda de US$ 10 bilhões neste ano, estimou o ministro. Além da estiagem, os agricultores enfrentam este ano uma combinação de fatores negativos: câmbio desfavorável às exportações, aumento dos custos de produção e depreciação dos preços no mercado internacional.

Para amenizar o quadro, Rodrigues negocia com o Ministério da Fazenda o adiamento do prazo de pagamento das parcelas dos empréstimos de custeio da safra 2004/05, que beneficiaria produtores de arroz, algodão, sorgo, milho, soja e trigo.

A proposta da Agricultura é que as parcelas vencidas e a vencer de junho, julho e agosto sejam pagas em março e abril de 2006.

A Fazenda aceitou a proposta inicial de Rodrigues, que previa a "rolagem" dos débitos para os produtores do Centro-Oeste e da Bahia, num total de R$ 1,8 bilhão para as três parcelas. Cálculos do Ministério da Agricultura mostram que o custo potencial da prorrogação das parcelas é de R$ 120 milhões.

INCLUSÃO

No entanto, o ministro resolveu incluir no pedido os produtores do sul do Maranhão, Tocantins, Piauí, Triângulo Mineiro e sul do Rio Grande do Sul e essa inclusão adiou um possível acordo.

Por causa disso, Rodrigues teve várias conversas telefônicas com o ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Para o assessor do Departamento Econômico da Confederação da Agricultura Pecuária do Brasil (CNA), Luciano Carvalho, a "letargia" do governo é muito ruim para os agricultores.

"Muitos produtores estavam esperando a ratificação da medida para comprar insumos para a próxima safra", avaliou. "Agora está todo mundo inseguro."

Em São Paulo, Rodrigues também admitiu a demora: "Essa decisão está muito lenta. Talvez a lentidão seja pela própria circunstância de que o cobertor é curto."

DEMORA

Outra medida proposta pelo governo para amenizar a crise da agricultura também demorou para sair do papel.

Durante o "tratoraço" que reuniu produtores em Brasília no final de junho, o governo anunciou a liberação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para que os agricultores pudessem quitar dívidas com empresas fornecedoras de insumos. Só nesta semana, os recursos, num total de R$ 3 bilhões, chegaram aos bancos.

Além dessa liberação, o governo destinou R$ 500 milhões para a agricultura familiar e abriu mão de R$ 2 bilhões para renegociação de dívidas de custeio e investimento, medida que beneficiou agricultores prejudicados pela estiagem.