Título: R$ 150 mi, maior assalto a banco do País
Autor: Carmen Pompeu
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Metrópole, p. C1

Em uma ação digna de roteiro de cinema, ladrões levaram R$ 150 milhões (cerca de US$ 65 milhões) do cofre da agência do Banco Central do Brasil em Fortaleza, localizada no cruzamento das Avenidas D. Manuel e Heráclito Graça. Não houve seqüestro de funcionário nem foi preciso fazer um disparo sequer. O dinheiro foi levado por um túnel de 78 metros de extensão com iluminação interna e ar-condicionado. De acordo com a Polícia Federal, os bandidos devem ter agido durante o fim de semana. Foi o maior roubo a banco da história do Brasil. Ninguém foi preso. O valor é bem superior aos US$ 39 milhões roubados em Belfast (Irlanda do Norte) em dezembro de 2004 - foi o maior assalto ocorrido no Reino Unido. No Brasil, o maior assalto era o do Banespa, em São Paulo, em 1999, de onde os ladrões levaram R$ 37 milhões (ou US$ 24 milhões, em valores atualizados pela inflação em dólar).

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que foi um trabalho de profissional. "Não é uma coisa fácil de manter encoberta. Com um pouco de sorte, como tinha muita gente envolvida, vai acabar vazando e fazendo com que a Polícia Federal desvende esse crime."

O cofre havia sido fechado às 18 horas de sexta-feira. O roubo só foi descoberto ontem de manhã. Ao chegar ao trabalho, funcionários do banco perceberam um buraco de 70 cm de diâmetro no piso do cofre. Sentiram a falta de cinco contêineres, que guardavam cédulas de R$ 50. A Assessoria de Imprensa do BC informou que eram notas já usadas, que haviam sido recolhidas pela rede bancária e seriam analisadas pelo Departamento do Meio Circulante. Após a análise, dependendo do estado de conservação, parte voltaria a circular no sistema financeiro e parte seria incinerada. Como não são notas novas, é praticamente impossível fazer o rastreamento delas.

Para chegar ao cofre do banco, os ladrões perfuraram um piso de 1,10 metro de espessura de concreto revestido com uma malha de aço. Dentro do cofre, havia sensores de movimento e câmeras de vigilância, que, estranhamente, não dispararam. A PF quer saber o motivo. Acredita-se que a quadrilha possa ter sido ajudada por alguém do próprio banco.

O buraco dava acesso a um túnel revestido de madeira e lona plástica, que, de dentro do cofre, ia até os fundos de uma casa onde funcionava uma empresa de fachada, a Grama Sintética. Os vizinhos nunca entenderam bem como trabalhava o grupo de homens que freqüentavam o imóvel. Nele, segundo informações de agentes da PF, vários compartimentos estavam repletos de sacas de areia. Roupas, restos de marmitas ficaram pelo caminho. O local ainda está interditado pela polícia.

Essa casa é a de número 1.071 da Rua 25 de Março, paralela à Avenida D. Manuel. Ao lado dela, há um hotel desativado. De acordo com o dono do hotel - que pediu para não ser identificado -, cerca de 10 homens freqüentavam a empresa.

Um deles, que dava sinais de que poderia ser o coordenador do grupo, era moreno, meio calvo, de barba por fazer, alto, tinha um porte atlético e costumava beber em um bar próximo. "De vez em quando, ele pagava bebida para todo mundo nesse bar", comentou. Um carro tipo furgão também era visto com freqüência saindo de lá.

A descrição do suposto coordenador coincide com a feita por um outro vizinho, Richard Chamberlain, de 38 anos, dono da Casa dos Livros, um sebo que funciona próximo à casa usada pelos bandidos. Segundo Chamberlain, o grupo estava havia três meses no imóvel. "Eles reformaram e pintaram a casa. Esse rapaz moreno costumava acenar para a gente. Mas não era de puxar assunto", comentou o comerciante.

A PF divulgou uma nota e mostrou imagens feitas por peritos dentro do túnel. Na nota, informaram que os ladrões deixaram algumas ferramentas, como alicate de corte grande, furadeira, serra elétrica e maçarico. Amanhã, deverá ser divulgado o retrato falado do suposto líder da quadrilha. Segundo o agente federal Alberto Pinheiro, oito homens já foram identificados. "Todos são de fora do Ceará", disse. O crime está sendo investigado com o apoio das Polícias Civil e Militar do Ceará e do Corpo de Bombeiros.