Título: Portugal Telecom diz que contato com Dirceu foi antes da posse
Autor: Jamil Chade e Jair Rattner
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Nacional, p. A5

O presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, admitiu que já "teve contato" com o deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro da Casa Civil, mas durante a campanha presidencial, em 2002. Ele qualificou Dirceu como uma "figura pública que com certeza tem influência". A informação foi publicada ontem no Jornal de Negócios, de Portugal. Referindo-se ao deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), Horta e Costa reclamou que sua empresa está sendo "objeto de um enxovalho de um homem que é desacreditado". A empresa foi citada por Jefferson como alvo de uma tentativa do publicitário Marcos Valério de arrecadar recursos ilegais para pagar as dívidas do PT e PTB. Horta e Costa se mostrou indignado com a imprensa portuguesa. "Há uma empresa, que é um dos grandes grupos portugueses, que está sendo objeto de um enxovalho de um homem que é um desacreditado. E ninguém tenta defender um bocadinho o que é nosso", reclamou.

Ele considerou que é "perfeitamente normal" o fato de ter-se reunido - apenas uma vez, e para tratar da Telemig, ressaltou - com Valério. Horta e Costa disse que o brasileiro estava só e lhe foi apresentado como "empresário". Segundo o executivo, Valério tinha, "na altura, algum peso, relações".

Indagado se o visitante tentou captar recursos, Horta e Costa negou, afirmando que isso seria "totalmente impossível" da parte da Portugal Telecom. Mas altas fontes da empresa afirmaram ao Estado, no fim da semana, que de fato uma proposta foi feita por Valério, mas não foi aceita pela empresa.

O presidente da Portugal Telecom negou que tenha se reunido com Valério entre 24 e 26 de janeiro. "Mas, se o tivesse recebido, o que é que isso significa?", perguntou. A única coisa que poderia ser condenável, ponderou Horta e Costa, seria se realmente tivesse se concretizado uma operação. "Mas não, nem isso ocorreu", insistiu. Ele confirmou que foi Valério quem lhe pediu uma reunião com o então ministro de Obras Públicas e Comunicações de Portugal, Antônio Mexia, no ano passado.

CAMPANHA ELEITORAL

Quanto a Dirceu, o presidente da Telecom insiste que o conheceu em uma rodada de contatos com os candidatos a presidente no Brasil. "Nessa altura conheci, também, o que era então o presidente do PT, José Dirceu. Mas fiz contatos também com o PSDB e com todos os partidos que estavam na corrida eleitoral. Isso é normal, todas as empresas fazem isso."

Horta e Costa admitiu que esses contatos não são habituais e se limitam ao período das eleições. "Não tenho contato nenhum com partidos", disse. As reuniões, explicou, foram para apresentar a empresa e mostrar seu interesse "em estar no Brasil e continuar a investir, em analisar oportunidades e defender um bocadinho os nossos interesses no Brasil".

Ele afirmou ainda ter "a melhor impressão" da equipe econômica do governo e a "maior admiração" pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Revelou-se "amigo pessoal" do ministro Luiz Fernando Furlan e lembrou que jantou há pouco tempo com o ex-presidente Fernando Henrique. Garantiu não conhecer Emerson Palmieri, o ex-tesoureiro do PTB.