Título: Ex-sócio confirma festas com garotas de programa em Brasília
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Nacional, p. A6

O empresário Ricardo Machado, ex-sócio da empresa MultiAction, confirmou ontem à Polícia Federal que selecionou, contratou e treinou garotas de programa para animarem pelo menos duas festas de embalo que Marcos Valério patrocinou em Brasília. A PF desconfia que as festas teriam contado com a participação de parlamentares e altos dirigentes dos governos federal e estaduais. Segundo ele, as garotas teriam sido encomendadas à cafetina Jeany Mary Corner, muito conhecida nos círculos do poder em Brasília. Ele contou à PF ter feito pessoalmente, durante um jantar, a triagem das moças levadas pela cafetina. Além da boa aparência, ele disse ter exigido que elas tivessem um "comportamento adequado em evento dessa envergadura". Jeany será chamada pela PF para revelar os nomes das moças e dos convidados das festas.

A PF apurou que, nos dias das duas festas citadas por Machado houve saques de R$ 3,5 milhões nas contas de Valério. As festas foram realizadas em 2003, nos três últimos andares do Hotel Gran Bittar. A parte light acontecia na suíte presidencial e incluía jantares com cardápios finos, champanhe, licores importados e até um uísque de nome sugestivo - Swing 15 anos. Depois, os convidados desciam para o 13.º e o 14.º andares, onde desfrutavam de suítes de luxo por três dias.

FRACASSO

Segundo Machado, a primeira festa, em 9 de setembro, custou R$ 8 mil e a segunda, em 5 de novembro, R$ 10 mil, valores que embutem o "custo" das moças. Mais as diárias do hotel, o valor total chegou a R$ 27,4 mil. Mas a comemoração de novembro, apesar de mais cara, acabou resultando em fracasso.

Machado não explicou à polícia o porquê do fracasso, mas informações da CPI dão conta de que, naquele dia, o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, alertado por um amigo, telefonou para um dos presentes e, aos gritos, mandou encerrar imediatamente a festa.

Entre 8 e 10 de setembro de 2003, a fatura do hotel registra 8 apartamentos alugados em nome de Machado. As faturas somam R$ 12,3 mil, R$ 8,05 mil consumidos na suíte presidencial. A fatura discrimina extensa lista de consumo: 25 doses de licor Baileys (R$ 175), 17 doses de Swing 15 anos (R$ 255), 9 garrafas de champanhe francês Veuve Clicquot (R$ 2,25mil) e 23 bufês executivos (R$ 1,61 mil). Para a segunda festa, frustrada antes do fim, Machado alugou 24 apartamentos, incluindo a suíte presidencial de novo. O custo total foi R$ 15,1 mil. Na lista de hóspedes, Valério e um sócio, o advogado Rogério Tolentino, aparecem nos apartamentos 1.403 e 1.411. O consumo dessa festa incluiu 40 pratos de camarão com risoto funghi (R$ 1,76 mil), 16 garrafas de champanhe Moet & Chandon (R$ 1,04 mil) e 14 combinados de sushi (R$ 1,09 mil).

Machado disse à PF que organizou as duas festas, mas não participou delas e não conhecia os convidados. Confirmou ainda que ambas foram encomendadas por Valério.

LARANJA

A PF apurou que na verdade a MultiAction pertence a Valério; Machado era apenas um laranja. Rastreamento do Banco Central mostra um maior faturamento da empresa, R$ 28 milhões, nos dois primeiros anos do governo Lula. Machado se associou à empresa em 2000 e saiu em 2004. Entrou sem capital, mas ao sair levou R$ 230 mil, graças à valorização da empresa.