Título: Lavagna rejeita pressão para baixar o dólar
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

Ministro da Economia argentino diz que país não acatará recomendação do FMI

BUENOS AIRES - "Nunca mais." Essa foi a reação do Ministro da Economia, Roberto Lavagna, sobre a possibilidade de a Argentina procurar uma cotação baixa do dólar. "Nunca mais haverá uma política com atraso no tipo de câmbio porque é nociva. Essa política é boa para os credores", disse Lavagna a um grupo de empresários e economistas. Ele rejeitou as pressões feitas nos últimos dias pelo Fundo Monetário Internacional para que a moeda americana caia, e afirmou que a política do dólar elevado permanecerá. Para o governo, isso é uma questão de sobrevivência. Só nesta semana o Banco Central adquiriu US$ 510 milhões para poder sustentar a cotação da moeda americana ao redor de 2,88 pesos. Em diversas ocasiões, integrantes da equipe econômica e do resto do governo indicaram que o ideal seria um dólar a 3 pesos. Os analistas afirmam que se o BC não estivesse intervindo, a cotação do dólar estaria em 2,40 pesos.

"Os organismos financeiros internacionais recomendam uma revalorização do peso. Que beleza! Mas eles falam isso porque, com um dólar mais baixo, é mais fácil pagá-los", disparou Lavagna, com sua costumeira ironia. Segundo ele, "a lógica dos mercados é perversa em relação à atividade econômica. O que é bom para a sociedade é ruim para os mercados financeiros".

Para o governo, manter o dólar elevado é crucial, já que isso - desde janeiro de 2002 - permitiu uma alta nas exportações argentinas graças à competitividade obtida com a desvalorização da moeda. Segundo Lavagna, nestes três anos e meio de desvalorização o ganho de competitividade foi de 125%.

A conseqüência do aumento das exportações é que o governo consegue maior arrecadação tributária por causa das pesadas retenções sobre as vendas ao exterior. Desta forma, a administração Kirchner obtém uma parcela substancial de seu superávit fiscal. Com o superávit, Kirchner tem os fundos necessários para seus programas sociais, obras de infra-estrutura, além de pagar as dívidas com os credores privados e os organismos financeiros internacionais.

O secretário de Indústria e Comércio, Miguel Peirano, defende o dólar alto, afirmando que "é positivo para o futuro, já que garante uma boa atividade e permite a realização de investimentos que são a garantia do crescimento econômico". Para a União Industrial Argentina (UIA) a cotação está no limite. Os industriais acham que seria ideal se o dólar voltasse aos 3 pesos do ano passado.

A política de Lavagna tem o apoio até dos principais líderes da oposição. Esse é o caso do ex-ministro da Economia e ex-candidato presidencial Ricardo López Murphy, que defendeu essa política.

No entanto, o ex-ministro da Economia, Domingo Cavallo, que retornou recentemente ao país depois de um auto-exílio voluntário de três anos, afirmou que se opõe à política do dólar alto. Cavallo foi o pai da conversibilidade econômica, que durante 10 anos e meio (1991-2002) estabeleceu a paridade 1 por 1 entre o peso e o dólar.