Título: Investidores externos mantêm risco país baixo
Autor: Cynthia Decloedt
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

Estrangeiro ignora crise política, alta de juro do EUA e aposta em título do Brasil

O risco país do Brasil atingiu 374 pontos na mínima de ontem, o menor nível desde 9 de março. O grande apetite dos estrangeiros parece estar protegendo os papéis da dívida externa brasileira das turbulências da crise política. O risco país é avaliado pelo índice Embi+ do JPMorgan. O Embi indica a diferença de remuneração entre os títulos do Tesouro americano e títulos da dívida de países emergentes de prazos semelhantes, isto é, quanto um título do Brasil, por exemplo, paga a mais de juros do que um dos EUA. Quanto maior a demanda pelos títulos, maior o preço desses papéis, o que faz a remuneração cair. Portanto, o aumento do apetite de investidores estrangeiros pelos papéis de emergentes faz o risco país cair. Segundo um estrategista de uma grande instituição, os fundos de pensão -americanos e os bancos centrais asiáticos trouxeram muita força ao mercado de dívida de mergentes. O risco país acabou encerrando o dia em 380 pontos, ainda em queda acentuada, de 1,81%.

"Os fundos de pensão americano investem de 0% a 2% de seus recursos em mercados emergentes e esse volume deve crescer para 5% nos próximos anos", afirmou.

De acordo com o especialista, os fundos de pensão americanos começaram a direcionar parte de seus recursos aos emergentes entre o final de 2002 e o começo de 2003, com a queda no rendimento proporcionado pelos ativos como as ações e papéis do Tesouro dos EUA e de outros países.

Como a decisão de investimento dos fundos é tomada após período superior a um ano de estudo, é muito provável que esse ingresso aumente nos próximos anos.

Embora porcentualmente o montante direcionado seja pequeno, o volume financeiro é bastante elevado e tem sido capaz de blindar o mercado da crise política e da perspectiva de alta no juro dos EUA. A fonte observa que 1% dos recursos aplicados em um único fundo de pensão americano significa cerca de US$ 2 bilhões, dos quais perto de 20% são direcionados ao Brasil, com base na proporção da participação do país no índice Embi+ do J.P. Morgan.

Além de resistir à crise política, o mercado da dívida brasileira dá sinais de estar à parte também da orientação dos títulos da dívida americana.

O juro do título de 10 anos dos EUA chegou a 4,4% na manhã de ontem, mas não deteve a queda do risco brasileiro. A lógica seria que, à medida que a remuneração dos títulos americanos sobe, a remuneração dos títulos brasileiros deveria acompanhar.