Título: Juro e dólar não derrubam a indústria
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

Apesar das taxas de juros elevadas e da valorização do real ante o dólar - que poderia afetar as exportações - , a produção industrial continua apresentando desempenho satisfatório, como mostram os levantamentos da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que não incluem o setor de mineração, e os do IBGE, mais amplos. A CNI apresentou um crescimento real das vendas de 1,53% em junho, comparado com maio, e de 4,5% no semestre; o IBGE, de 1,6% e 5%, respectivamente. Os dados do IBGE, mais detalhados, mostram que em junho o setor que mais cresceu foi o de bens de consumo duráveis, com 8,1%. É um reflexo do aumento do volume de crédito e da demanda externa para bens com forte conteúdo de mão-de-obra.

Se a oferta de crédito cresceu, o custo desse crédito aumentou. Isso explica por que os bens de consumo semiduráveis e não-duráveis apresentam um crescimento bem inferior (0,7% em junho e 6,7% no semestre), pois as famílias reduziram as compras de bens correntes.

Existe sempre a preocupação de saber se haverá investimentos suficientes para atender à demanda crescente. Os dados da CNI fornecem neste sentido duas indicações interessantes. As horas trabalhadas cresceram, em junho, 0,68%, e a utilização da capacidade instalada passou de 81,9% para 82,6%, ficando, todavia, abaixo da de junho de 2004 (83,1%). Os dados do IBGE mostram que em junho, em relação a maio, a produção de bens de capital acusou crescimento de 4,2%, o que parece indicar um aumento dos investimentos que permitirão manter adequada a oferta diante de um possível aumento da demanda.

No entanto, entre os bens de capital, o IBGE inclui os caminhões. Ora, no mês de julho, segundo dados que acabam de ser divulgados pela Anfavea, a produção de veículos automotivos acusou forte retração em relação a junho. Isso seguramente deverá se refletir nos próximos dados da produção industrial do IBGE. Tudo indica, porém, que essa retração se deve apenas à perspectiva de uma redução da taxa Selic, que deve propiciar diminuição no custo do dinheiro.

Se realmente o Comitê de Política Monetária (Copom) inicia um processo de recuo da taxa Selic, podemos ter um novo fator para um crescimento da demanda que se acentuará com os acordos salariais do final do ano e permitirá um desempenho mais equilibrado de todas as categorias de bens da indústria.

Até agora a produção industrial foi sustentada pela exportação, que não recuou apesar da queda do dólar .

Diversos fatores explicam esse desempenho das exportações de produtos manufaturados, entre eles a redução do preço dos insumos importados e o menor peso do pagamento de juros sobre a dívida externa. Sem dúvida uma redução da taxa de juros teria efeito altamente positivo.