Título: Não existe espaço hoje para mudança no cálculo da inflação
Autor: SONIA RACY
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

Com a aproximação de nova reunião do Copom, volta à baila, em tempos de crise política, a eterna discussão sobre o regime de metas de inflação. Entre os argumentos dos que defendem uma mudança no cálculo do índice da inflação existem três equívocos básicos, na avaliação do economista Fabio Giambiagi, do Ipea. O primeiro é a idéia de que o rigor da política monetária se deve ao uso pelo BC do índice cheio em lugar dos núcleos. "Como nos últimos 12 meses a variação da média dos núcleos e do índice cheio foi estritamente a mesma, de 7,3 %, o argumento não é válido." O segundo, associado a isso, é de que o importante são os preços livres. Ocorre, porém, que até maio a taxa de variação dos preços livres em 12 meses era idêntica à de 2005, "sinal de uma rigidez que só agora começa a ser quebrada". O terceiro equívoco é a argumentação de que o País deveria trocar de índice, deixando de lado os preços administrados, pela sua inércia. "Algo que pode ter a sua lógica, mas que, no momento, quando pela primeira vez em muito tempo o IGPM começa a ajudar, seria um completo equívoco." Giambiagi inclui-se entre aqueles analistas que entendem que o regime de metas de inflação não pode ter uma rigidez pétrea e que há aspectos e detalhes que podem ser sim mudados. "Mas a essência de que o importante é o índice cheio deveria ser conservada", defende. E argumenta. Olhando em perspectiva para a segunda metade da década, o importante de agora em diante é discutir a que velocidade queremos que a inflação continue diminuindo daqui para a frente. "Mudar o regime depois de todo o sacrifício que fizemos nesses últimos três anos seria equivalente a 'morrer na praia'."

Para o economista, daí se conclui que, embora a discussão relevante hoje seja definir qual será a meta de inflação de 2007 em diante, considerando-se que já estamos rodando na margem a 5%, mudar agora implicaria inflacionar a economia. "Definir os detalhes de eventuais mudanças metodológicas passou a ser tarefa para o próximo governo."