Título: Paralisia pode levar País 'ao despenhadeiro', diz Severino
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A6

Presidente da Câmara afirma que está transtornado com a crise e anuncia esforço para fazer o Congresso votar e mostrar trabalho

Com a paralisia do governo por causa da crise, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu ampliar seu espaço de atuação e fazer o Congresso mostrar trabalho. "O presidente da Câmara não está deprimido e quer fazer o País funcionar. Eu não estou aqui para defender nem o palácio nem a oposição. Eu quero defender o País", declarou ele, ao falar da crise e das lamentações públicas do presidente Lula. "Isso tem me transtornado porque eu estou sentindo que o País pode ir para o despenhadeiro." Nos últimos dois dias, Severino interferiu nas negociações da nova versão da MP do Bem, pacote de incentivos a investimentos produtivos e na área de energia anunciado há 50 dias como iniciativa da agenda positiva do governo. Sua intervenção foi considerada essencial para a boa conclusão das conversas.

Para terça-feira, ele promete destravar a pauta de votação da Câmara. Também deve aproveitar o encontro semanal com Lula, no Planalto, para dar duas mensagens. Primeiro, a de que não é ele, Severino, que está "deprimido". Segundo, que não agirá como um "feitor" nem como "desestabilizador" do governo.

Para ele, o Executivo paralisou sua agenda por conta das CPIs e das denúncias de corrupção que envolvem o governo e parlamentares. Diante desse cenário, disse, o "Legislativo entrou e tomou posição" e não deixará a Nação parar. A convocação dos industriais a Brasília para a discussão da agenda mínima, ontem, foi uma de suas iniciativas nessa linha. Para as próximas semanas, promete levar 500 empresários para conversar com o presidente Lula, "para mostrar que o País precisa continuar trabalhando".

Na sua esfera direta de ação, Severino quer destravar a pauta da Câmara na próxima semana e pôr em votação as reformas política e tributária e as medidas provisórias que travam ou podem vir a obstruir os trabalhos, como é o caso da MP do Bem. "Não vou afrontar o Poder Executivo nem as comissões. Eu estou muito à vontade. Eu não votei em Lula, não fui eleito por Lula, ele fez tudo para me derrotar", afirmou.

CASSAÇÕES

Ele reiterou, entretanto, que não permitirá o encaminhamento de 18 pedidos de cassação de deputados ao Conselho de Ética antes da conclusão das três CPIs que estão investigando as acusações de corrupção - a dos Correios, a do Mensalão e a dos Bingos. Caso contrário, argumentou o presidente da Câmara, os trabalhos do Congresso acabarão "tumultuados e paralisados" até o fim de 2006.

"Eu quero que aquele (deputado) que tenha alguma mácula, que tenha desrespeitado o regimento da casa, seja punido. Nós não vamos botar a mão em cima de ninguém. Não vou proteger ninguém", afirmou Severino. "Mas não vamos aceitar que parlamentares que não tenham nenhuma culpa sejam jogados à execração pública, só por uma briga partidária."