Título: Para PF, Valério destruiu provas
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A7

Há indícios de que o empresário limpou documentos fiscais e contábeis e removeu dados do sistema eletrônico de suas empresas

A Polícia Federal encontrou indícios de que o empresário Marcos Valério de Souza limpou documentos fiscais e contábeis e removeu dados incriminadores do sistema eletrônico de suas empresas. As primeiras análises do material apreendido anteontem nas suas agências de publicidade DNA e SMPB indicam que computadores antigos foram substituídos recentemente por novos e outros podem ter tido a memória apagada. As agendas de 2003 e 2004 das duas empresas de Valério também desapareceram e só foram encontradas anotações a partir de julho de 2005. As agendas antigas são fundamentais para as investigações, porque retratam os encontros, reuniões e contatos telefônicos de Valério e de diretores da empresa com integrantes do governo federal e o PT. O material apreendido por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da CPI dos Correios, foi repassado ontem mesmo para o Instituto Nacional de Criminalística da PF para perícia. As buscas e apreensões foram realizadas em Belo Horizonte, sede das duas empresas, e atingiram também as residências da diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, e da funcionária Geiza Santos.

CAIXA 2

Em depoimento prestado ontem à PF, em Brasília, o presidente do PT do Distrito Federal Vilmar Lacerda afirmou que recebeu R$ 381 mil em dinheiro proveniente de caixa 2: parte remetido pelo PT nacional, parte sacado em contas de Valério. Ele disse que não sabia que se tratavam de recursos ilegais e que o dinheiro foi solicitado ao tesoureiro do partido, Delúbio Soares, para pagamento de dívidas contraídas desde 1998.

Lacerda disse que, do montante, sacou pessoalmente apenas R$ 50 mil, na agência do Banco Rural, em Brasília. Outros R$ 135 mil, conforme relatou, foram trazidos do Rural de Belo Horizonte por assessores enviados pelo PT do Distrito Federal. Os R$ 196 mil restantes teriam sido transferidos diretamente pelo PT nacional. Ele disse que está tudo contabilizado e prometeu entregar os recibos.

Segundo o presidente do PT-DF, o partido adotou a prática de caixa 2 em 2003, por iniciativa de Delúbio. "Embora seja essa a forma tradicional de se fazer política no Brasil e todos os partidos façam isso, não se justifica a atitude do Delúbio", comentou Lacerda. Ele não soube dizer se os R$ 196 mil enviados pelo PT nacional também seriam provenientes de caixa 2.

VALORES

Em outro depoimento, o vice-presidente do partido, Raimundo Ferreira da Silva Júnior, informou que recebeu R$ 100 mil de um funcionário do Banco Rural e repassou o valor imediatamente a Delúbio. "Não sabia que se tratava de caixa 2. Repilo essa prática e só fui pegar o dinheiro porque sou amigo dele", explicou.

A PF considerou o depoimento dos dois convincente, mas vai aguardar os comprovantes do destino que eles deram ao dinheiro, porque os valores não correspondem aos divulgados na lista entregue por Valério ao Ministério Público Federal. Nela, Vilmar aparece sacando R$ 235 mil, menos do que declarou, enquanto os saques de Raimundo teriam somado R$ 370 mil, pelas contas do empresário.