Título: Valério vai dizer que doleiro era o elo com Duda
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Nacional, p. A7

No depoimento que dará hoje à CPI do Mensalão, Marcos Valério vai reiterar que o marqueteiro Duda Mendonça, responsável pela campanha eleitoral do presidente Lula, foi beneficiário de repasses de R$ 15,5 milhões. Segundo seu advogado, Marcelo Leonardo, o elo entre Duda e os sacadores - o policial civil David Rodrigues Alves e o churrasqueiro Francisco de Assis Novaes, que sacaram cerca de R$ 6,15 milhões das contas da agência SMPB, de Valério, no Banco Rural - é o doleiro mineiro Jader Kalid Antônio. "É a pessoa que o Duda indicou para receber", afirmou Leonardo. "Ele contratou o policial e o churrasqueiro (Novaes) para receber por ele."

Na semana passada, a diretora-financeira da SMPB, Simone Reis de Vasconcelos, disse à Polícia Federal e à CPI dos Correios que R$ 15,5 milhões foram repassados a Duda por sua sócia, Zilmar Fernandes da Silveira. Valério confirmou e contou que os repasses foram feitos por "instruções" do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. "Efetivamente foi. Isso pode ser checado com o próprio Delúbio", afirmou seu advogado. O dinheiro sacado por Alves e Novaes seria passado à sócia de Duda.

Kalid negou ser intermediário dos supostos repasses. Assegurou que não tem "nenhum contato" com Duda Mendonça e não conhece Alves nem Novaes. "Estou aguardando para tomar as minhas providências", disse. "Agora tem que ver quem eles estão acobertando."

O policial e Novaes não foram localizados ontem. Em depoimentos anteriores Alves disse que não conhece Valério e seu contato na SMPB era o sócio Cristino de Mello Paz. Ele afirmou ainda que retirava dinheiro de agências do Banco Rural na capital mineira e entregava para Simone ou para Geiza Dias, outra gerente da SMPB.

PALMIERI

Ontem, em nota divulgada pela assessoria, Valério repetiu que tem "estreito relacionamento" com Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB, "e o mesmo foi a Portugal, em janeiro, fugindo de pressões do presidente de seu partido, deputado Roberto Jefferson". Ele destacou que hoje "apresentará à CPI provas de sua amizade com Palmieri, bem como todos os fatos reais acerca da viagem de ambos a Portugal". Para o advogado do publicitário, Palmieri "provavelmente está defendendo Jefferson, dando a versão" que ele quer.

Valério negou afirmação de Jefferson de que recebeu proposta de reestatizar linhas de transmissão da Eletronorte, numa operação que envolveria o Banco Espírito Santo. Classificou as declarações de "alucinadas" e disse que Jefferson "tenta, mais uma vez, envolvê-lo em suas estórias fantasiosas".

Ele prometeu entregar amanhã à Procuradoria-Geral da República, à Polícia Federal e às CPIs os documentos de 2000 a 2005 de todas as empresas de que participa. Valério disse que os documentos comprovam que a quantia total dos empréstimos feitos para o ex-tesoureiro do PT é de cerca de R$ 55 milhões, o que, somando-se aos juros, chega a R$ 100 milhões.

Segundo sua assessoria, a mesma documentação seria entregue ontem à Receita Federal em Belo Horizonte. Os documentos, explica a assessoria, comprovariam a "veracidade das informações prestadas pelo empresário à Procuradoria-Geral da República na última semana."