Título: Para Jefferson, presidente não resiste no cargo se povo for às ruas
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Nacional, p. A10

Em resposta aos gritos de "fora Lula" dos alunos de direito da USP, o deputado Roberto Jefferson (PTB) afirmou que se houver manifestações nas ruas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cai. "Hoje a situação dele (Lula) é tênue. Se vocês levarem às ruas esse grito, ele não se segura. Não segura", disse Jefferson pausadamente. Convidado pelo Centro Acadêmico para debate sobre ética na política, Jefferson provocou nos alunos as mais variadas reações e saiu escoltado por seguranças e policiais, esquivando-se de laranjas e ovos que foram atirados contra ele.

Logo no início, ouviu placidamente os xingamentos na sala lotada, que duraram alguns minutos. "Não fujo da luta, nem do enfrentamento", disse.

Foi aplaudido e ouviu risos ao chamar seguidas vezes o presidente Lula de "preguiçoso, culpado pela omissão"; ao dizer que o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu "afinou a voz" quando estiveram frente a frente no depoimento do petista na CPI dos Correios; ou ao ironizar a renúncia do ex-deputado do PL Valdemar Costa Neto. "Não estou me escondendo, não dei uma de galo mutuca como um deputado que já correu". Em seguida sugeriu que outras renúncias estão por vir. "Tem outros que estão preparados para correr."

Jefferson seguiu a estratégia de assumir sua culpa para em seguida atacar. "Existe caixa 2", repetiu algumas vezes. "Eu não precisava ter recebido, podia ter devolvido", prosseguiu, recebendo um sonoro coro de "devolve" como resposta. "Tive de ajudar alguns companheiros nas eleições", completou sem convencer.

Ele justificou sua ida à faculdade como parte de sua "prestação de contas" à sociedade. "Eu não vou fazer como fez o presidente Lula na França, que tentou explicar o caixa 2", cutucou, dividindo aplausos e vaias.

Jefferson voltou a atacar a cúpula do PT, "que foi por 25 anos estilingue, carregou o discurso da ética e da moralidade" e que, "na cadeira, fez o mais desassombrado assalto a que eu assisti no Brasil". E citou os nomes de José Genoino, José Dirceu, Silvio Pereira e Delúbio Soares como "a cúpula que já caiu toda", responsável pela crise do PT.

Para o deputado, a crise moral é do governo e da base aliada, mas "não afetou a sociedade do Brasil", o que provaria que "a democracia está cada vez mais forte".

Em meio ao jovem público, ao fim de seu discurso Jefferson adotou tom professoral. "As mudanças serão feitas sob a ótica vigilante da sociedade brasileira. Não há milagreiros. Não há monopólio da ética, da moralidade", discorreu. "Nos meus 23 anos de mandato, todo malandro que eu vi batendo no peito em nome da ética e da moralidade, descobri depois que era safado", discursou. "Eu não. Eu nunca fiz esse discurso", repetiu diversas vezes diante do forte coro de "picareta" da platéia.

"Persistam nesse grito. Os que divergem de mim, que continuem me xingando. Os que divergem de Lula façam isso com muita força, para democracia ficar cada vez mais forte", concluiu, vendo parcela da platéia gritar "volta FHC" e outra vaiando a manifestação.