Título: Tucanos sobem o tom das críticas ao presidente
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Nacional, p. A11

O PSDB, embora ainda descarte assumir uma palavra de ordem pró-impeachment, decidiu elevar o tom dos ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao governo. É um movimento articulado da cúpula tucana, do qual está fora apenas o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, em reação ao que considera tom abertamente eleitoral e de confrontação assumido pelo presidente. No último final de semana, os cardeais tucanos emitiram vários sinais da nova atitude do principal partido de oposição ao governo. Em artigo publicado no domingo pelo Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou Lula de "gabola e desafiante" e disse que o Brasil está sendo governado por "um bando de gente irresponsável". No artigo, FHC deixou claro também que o PSDB, abandonando o comportamento adotado no início da crise, não se preocupará mais em preservar Lula ou estabelecer algum diálogo. "Se crime de responsabilidade houver ou quebra de decoro parlamentar, sigam-se as regras estabelecidas na Constituição com todas as conseqüências", escreveu o ex-presidente.

Em encontro em Florianópolis, realizado sábado pelo Instituto Teotônio Vilela, dois potenciais candidatos do partido ao Planalto também fizeram pesados ataques a Lula e ao PT. O prefeito José Serra acusou o PT de virar "a legenda da transgressão à ética" e fez uma crítica ao "autismo" do governo no enfrentamento da crise.

"Há os governos que fazem acontecer e os que só ficam olhando o que só acontece. O governo Lula é do tipo que não quer saber o que acontece", disse Serra. O governador Geraldo Alckmin, normalmente comedido, também partiu para o ataque ao dizer que Lula criou a "PPP do propinoduto" - alusão às parcerias público-privadas.

Para o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), o aumento da agressividade dos tucanos é uma reação proporcional aos últimos pronunciamentos de Lula - em especial o discurso feito pelo presidente em Garanhuns (PE) na semana passada, em que ele praticamente assumiu uma candidatura à reeleição e disse que a oposição terá de engoli-lo porque sairá das urnas vitorioso.