Título: Alto funcionário da ONU é acusado de corrupção
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Internacional, p. A14

O ex-chefe do programa humanitário da ONU Petróleo por Alimentos, Benon Sevan, foi acusado ontem de ter recebido US$ 150 mil em subornos. Outro veterano funcionário da organização, Alexander Yakovlev, responsável por compras entre 1993 e 2005, foi preso e declarou-se ontem culpado das acusações de conspiração, fraude e lavagem de dinheiro após os investigadores encontrarem evidências de que ele recebeu US$ 1 milhão em pagamentos ilegais de empresas que buscavam obter contratos com as ONU. A comissão independente de investigação estabelecida pela ONU, liderada por Paul Volcker, ex-presidente do Federal Reserve (Banco Central dos EUA), recomendou que Sevan, que administrou o maior programa humanitário da história da ONU, e Yakovlev sejam processados. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, levantou a imunidade diplomática dos dois homens. Os investigadores disseram que o US$ 1 milhão que Yakovlev recebeu não está relacionado com o Programa Petróleo por Alimentos de US$ 67 bilhões.

"São funcionários de alto escalão da ONU", disse o juiz sul-africano Richard Goldstone, membro da comissão. "É muito sério para uma organização ter altos funcionários que se beneficiem ilegalmente."

Mark Malloch Brown, assessor de Annan, disse que a ONU alertou em julho o procurador federal para o distrito de Nova York de que "investigações internas sobre Yakovlev haviam encontrado evidências de irregularidades criminais". Sobre Sevan, Annan disse que a organização já estava trabalhando com a procuradoria do distrito de Manhattan. Segundo o relatório, Sevan obteve cerca de US$ 150 mil por contratos fechados a seu pedido com a companhia African Middle East Petroleum, presidida pelo egípcio Fakry Abdelnour, primo do ex-secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Gali.

A comissão informou que o próprio envolvimento de Annan será investigado, com base em um e-mail de um funcionário da empresa Cotecna Inspetion, que empregou o filho do secretário-geral, Kojo. O e-mail diz que Annan estava apoiando a proposta da Cotecna para um lucrativo contrato no Iraque, que acabou recebendo.

O Petróleo por Alimentos - que permitia a Bagdá vender petróleo para comprar bens de primeira necessidade - começou em dezembro de 1996 e terminou em 2003, quando os EUA invadiram o Iraque.