Título: Crédito faz Bradesco lucrar R$ 2,6 bi
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

O Bradesco registrou no primeiro semestre o maior lucro líquido da história dos bancos brasileiros num período de seis meses. O resultado cresceu 110% e alcançou R$ 2,62 bilhões - 6% superior ao do concorrente Itaú, que na semana passada havia anunciado lucro de R$ 2,47 bilhões no período. No setor, o ganho das instituições que já apresentaram balanço cresceu em média 52% e atingiu R$ 6,02 bilhões, segundo levantamento da Austin Rating. O presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, atribui o resultado recorde a um conjunto de fatores, em especial ao consistente crescimento da carteira de crédito. Até junho, o estoque de empréstimos e financiamentos avançou 19,5%, de R$ 58,40 bilhões para R$ 69,79 bilhões. A receita de crédito contribuiu com 34% do lucro apurado no semestre - ou R$ 891,14 milhões.

Cypriano destaca que os vários acordos operacionais e aquisições de carteiras de crédito feitos nos últimos meses tiveram resultados acima da expectativa. A parceria com as Casas Bahia, por exemplo, representou operações superiores a R$ 700 milhões até junho. Além disso, os acordos com bancos de menor porte para empréstimo consignado aos aposentados do INSS já somam R$ 1,33 bilhão.

Dentro da carteira de crédito do Bradesco, o crescimento mais significativo (50,5%) ficou por conta do portfólio de pessoas físicas, que subiu de R$ 17,8 bilhões para R$ 26,8 bilhões. Para o vice-presidente executivo do Bradesco, José Luiz Acar Pedro, esse resultado decorre do crescimento econômico, com a recuperação da renda e do emprego.

Exemplo disso é que o financiamento ao consumo cresceu 57,7% em relação ao primeiro semestre do ano passado, completa. O crédito pessoal quase dobrou, de R$ 3,3 bilhões para R$ 6,5 bilhões, e o financiamento de veículos saltou de R$ 8,2 bilhões para R$ 12,5 bilhões. O portfólio de micro, pequenas e médias empresas também apresentou crescimento significativo, de 23%, e atingiu R$ 20,1 bilhões. Já os empréstimos para grandes empresas recuou 5,7% em relação ao ano passado. Mas esse é um movimento esperado pelo banco, já que as companhias têm procurado operações mais estruturadas para se financiar, como a emissão de debêntures e ações, observa Cypriano.

Segundo ele, a previsão de crescimento da carteira de crédito para este ano foi revisada para cima. Antes a expectativa era de um avanço entre 20% e 22%. Agora a instituição espera um incremento entre 22% e 25%. Para Cypriano, a crise política não deverá prejudicar os negócios. Ao contrário. "A área econômica vive um bom momento e pode contaminar a parte política", diz o presidente do maior banco privado do País.

Cypriano afirma ainda que, além do crédito, as receitas de serviço deram grande contribuição ao resultado do semestre, com uma participação de 25% do lucro líquido. O ganho proveniente da prestação de serviços subiu de R$ 2,69 bilhões para R$ 3,42 bilhões, um aumento decorrente do crescimento da base de clientes, do crédito e de captações dos fundos de investimento, cuja carteira somou R$ 108,49 bilhões.

A área de seguros respondeu por 30% do ganho do banco e a de títulos e valores mobiliários, por 11%. No ano passado, esse segmento havia representado 7% do lucro líquido. Esse crescimento pode ser explicado pelo avanço da carteira de fundos, reservas técnicas e redução da participação na Belgo-Mineira, esclarece Cypriano.

O aumento de receitas nos vários segmentos do banco contribuiu para a melhora de praticamente todos os índices financeiros. O retorno sobre o patrimônio líquido, que alcançou R$ 17,45 bilhões, quase dobrou e atingiu 34,9%, ante 19,4% em 2004.

O índice de eficiência alcançou 48,1%, enquanto no mesmo período do ano passado estava em 60,1% (quanto menor o índice, maior a eficiência). A inadimplência também recuou, apesar do crescimento da carteira de crédito, de 4% para 3,2%. Para completar o quadro positivo da instituição, o valor de mercado do Bradesco cresceu 93,9%, para R$ 39,6 bilhões.