Título: Indústrias da Bahia enfrentam racionamento
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

A Bahia é o primeiro Estado a enfrentar o racionamento de gás natural no País. A Bahiagás, companhia de distribuição local, não consegue atender à demanda industrial de 4,3 milhões de metros cúbicos por dia. A oferta disponível é de 3,5 milhões de m3/dia. Segundo Petronio Lerche, diretor-presidente da empresa, várias expansões foram barradas pela companhia em razão da não garantia de suprimento. "Acabamos de concluir um gasoduto até Feira de Santana. Há várias indústrias e postos de GNV naquela região que pedem o gás, mas não há como atender", conta.

A previsão é que o problema seja resolvido apenas em março do ano que vem, quando começa a produção de gás no Campo de Manati, na Bacia de Camamu, na Bahia. A produção de 4 milhões a 6 milhões de m3/dia dará à Bahiagás a oferta de que precisa para destravar o atual represamento, inclusive oferecer o lastro para as termoelétricas.

O exemplo da Bahia mostra como atrasos na definição de projetos pode comprometer o aumento da oferta. "O campo de Manati foi descoberto em 2000; se a decisão de explorá-lo tivesse sido tomada em 2001, a Bahia não teria de enfrentar um racionamento", diz Lerche.

Assim como o novo campo, a Bahia e o Nordeste anseiam pela definição do trecho norte do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene). "Sem ele, o Nordeste enfrentará problemas", afirma. O projeto prevê a interligação da malha de gás de Cabiúnas (RJ) a Catu (BA), passando por Vitória (ES).

Por enquanto, ha discussões apenas sobre o trecho sul que interliga Vitória ao Rio. "O projeto é um dos itens relevantes para o desenvolvimento do mercado de gás natural no País", diz Romero Oliveira e Silva, presidente da Abegás.

O Ministério de Minas e Energia (MME) preferiu silenciar sobre o tema. A alegação é que trabalha neste momento num projeto de lei do gás. A informações é que apresentará em dois meses uma proposta ao Congresso. A meta é instituir fundamentos para a cadeia, à semelhança do que foi feito na definição de um novo modelo do setor elétrico.

FIESP

A lei de hidrocarbonetos, promulgada em maio na Bolívia, ainda causa apreensão quanto ao abastecimento, principalmente da indústria paulista, que demanda diariamente 75% do gás natural boliviano para manter funcionando suas linhas de produção. "Temos mais de 2 mil indústrias em alerta no Estado", diz o diretor da divisão de Energia da Federação das Indústrias do Estado (Fiesp), Luiz Gonzaga Bertelli.

Ele revelou que, de acordo com estatísticas da Petrobrás, 54,9% do consumo diário são industrial e apenas 12,5%, veicular. No entanto, o Brasil, segundo Paulo Roberto Costa, diretor de Abastecimento da Petrobrás, é um dos poucos países do mundo que vêm aumentando as reservas, tanto de petróleo quanto de gás natural.

Segundo Costa, com os investimentos para a prospecção do gás natural na Bacia de Mexilhão, em Santos, Litoral paulista, os problemas de abastecimento de gás nessa região poderiam ser reduzidos.