Título: Falta gás natural no País, alertam distribuidoras
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

O déficit de gás natural no Brasil neste ano será de 18 milhões de m3 por dia. A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) lançou um alerta para o fato de haver desabastecimento em dois anos. Na Bahia, o mais antigo consumidor de gás natural do País, vigora neste momento um racionamento. O setor cobra rapidez do governo federal e do Ministério de Minas e Energia para estabelecer plano estratégico capaz de pôr em marcha um programa nacional de infra-estrutura para expandir a oferta e, principalmente, fazer a interligação da malha nacional, seja no Sul - como porta de entrada do gás argentino -, seja a interligação Sudeste-Nordeste pelo Gasene. As reservas de gás natural no País chegam a 326,1 bilhões de m3, suficientes para atender à demanda.

Sem um plano nacional, a única política em vigor no País relacionada ao gás é a comercial, realizada pela Petrobrás e pelas 19 distribuidoras.

O governo federal, que promete há anos a política nacional para o gás, alega que "discute com o setor" uma proposta de projeto de lei de Política do Gás que enviará ao Congresso Nacional em dois meses.

A partir daí, o problema passa a ser a atual crise política que paralisou o Parlamento. "É urgente um planejamento", salienta Romero de Oliveira e Silva, presidente da Abegás.

Segundo Sérgio Bajay, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Estratégico da Universidade Estadual de Campinas (Nipe/Unicamp), o governo precisa tomar as rédeas de um mercado promissor, mas que anda ao sabor das empresas.

O déficit de 18 milhões de m3/dia neste ano passará a 17,8 milhões de m3/dia no próximo ano e cresce para 27,8 milhões de m3/dia em 2007. Pode cair somente em 2008 e 2009, quando 26 milhões de m3/dia depois 42 milhões de m3/dia poderão ser injetados no sistema nacional de distribuição. A oferta, entre o período, chegará a 96 milhões de m3/dia a 110,5 milhões m3/dia.

As novas ofertas previstas terão de vir da expansão do gasoduto Bolívia-Brasil, da Transportadora Sulbrasileira (empresa que trará gás de Uruguaiana-RS, porta de entrada do gás importado da Argentina) e do novo Campo de Mexilhão (na Bacia de Santos).

Até lá, o Brasil terá de torcer para que as chuvas sejam suficientes para manter os reservatórios das hidrelétricas bem abastecidos.

Só isso mantém a situação atual: térmicas desligadas, sem consumo de gás. É por isso que o abastecimento de boa parte do País (exceto a Bahia, que vive racionamento neste momento) não foi atingido.

Nesta situação, o déficit é contábil, em razão da obrigatoriedade de assegurar um "lastro" para as térmicas, a garantia de fornecimento caso necessário.

Oliveira e Silva recorre a imagem bem ilustrativa para explicar o atual cenário brasileiro do gás. "É como um shopping com mil vagas no estacionamento. Todos sabemos que São Paulo tem mais de mil carros. Se todos resolverem ir ao shopping ao mesmo tempo, não vai caber todo mundo."

É esta a situação do mercado de gás no Brasil. Não há gás se o País tiver de ligar as termoelétricas.

E o consumo continua crescendo. De janeiro a maio, o consumo de gás no Brasil subiu 11,21% sobre igual período de 2004. A demanda avança em todos setores.