Título: Metalúrgicos iniciam campanha salarial
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

Mesmo com a desaceleração da economia interna apontada em vários setores industriais neste segundo semestre, trabalhadores metalúrgicos contam com o bom desempenho das exportações para negociar aumentos reais de salários. No primeiro semestre, cerca de 250 mil funcionários das empresas de metalurgia conseguiram reajustes acima da inflação - o equivalente a 97% da categoria com data-base no período. O objetivo é repetir o desempenho nesse segundo semestre, quando 1,2 milhão de metalúrgicos estarão em campanha salarial. Em todo o País, o ramo metalúrgico emprega 1,56 milhão de trabalhadores, dos quais 900 mil representados por sindicatos da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Da parcela que teve data-base entre janeiro e junho, 1,1 mil conseguiram apenas repor a inflação. Nenhuma empresa aplicou índice inferior à inflação. Os aumentos variaram de 0,5% a 4%.

Segundo estudo da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CMN/CUT) e da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), os aumentos obtidos representaram adicional de cerca de R$ 220 milhões ao mês na economia, valor que não inclui acordos de participação nos lucros. "Mesmo em menor porcentual, o crescimento da economia vai se sustentar neste segundo semestre e as negociações tendem a resultar em aumento real", diz o secretário de organização da CNM, Valter Sanches.

Segundo ele, um dos fatores que deve garantir bons resultados na produção são as exportações. Apesar da defasagem cambial, a maioria dos contratos externos foi mantida e as fábricas estão com entregas programadas até o fim do ano. Sanches espera ainda que medidas do governo como a injeção de R$ 9 bilhões nas áreas de bens de capital e máquinas agrícolas ajudem a economia a manter-se em crescimento, ainda que inferior ao registrado em 2004. "A MP do Bem, se aprovada, também vai colaborar."

Os temores dos sindicalistas, manifestados também por empresários, são a manutenção dos juros altos, do real valorizado em relação ao dólar e uma possível contaminação da crise política na economia.

O setor metalúrgico, responsável por 4,7% da mão-de-obra empregada no País e por 5,15% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, vai investir, entre 2005 e 2008, US$ 11,8 bilhões - metade com suporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Composto por montadoras, autopeças, siderúrgicas e indústrias de bens de capital e eletroeletrônicos, o setor criou, no primeiro semestre, 44.536 postos de trabalho, menos que os 57,8 mil de igual período de 2004. "Mesmo em ritmo mais lento, o setor cresce em número de empregos desde 2003, após 15 anos de queda constante", diz Sanches. Em 1997, as metalúrgicas empregavam 2,7 milhões de pessoas.