Título: MPF tem cheques que ligam Duda a Valério
Autor: Fausto Macedo e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Nacional, p. A15

Documentos que reforçam a suspeita do vínculo entre Marcos Valério Fernandes de Souza, empresário acusado de ser o operador do mensalão, com o marqueteiro Duda Mendonça estão sendo analisados pela Procuradoria-Geral da República. Esses papéis fazem parte de um calhamaço de 126 páginas que contém cópias de cheques e recibos bancários correspondentes a saques que teriam sido realizados por deputados, assessores políticos e empresários. A papelada foi entregue ao Ministério Público Federal pelo próprio Marcos Valério, que pleiteia o benefício da delação premiada - em troca do perdão judicial, ele se dispôs a entregar provas às autoridades.

Oito cheques que somam R$ 2 milhões fazem parte do lote que teria sido emitido em favor de Zilmar Fernandes da Silveira, sócia do marqueteiro, que fez a campanha eleitoral do presidente Lula. Inaugura a pasta com referência a Duda uma página onde Valério escreveu os nomes dos sacadores indicados para irem à agência do Rural em São Paulo, na Avenida Paulista, entre eles dois detetives da Polícia Civil de Minas: "Documentos relativos aos repasses a Zilmar Fernandes da Silveira. Repasses através de David Rodrigues Alves, Luiz Carlos Costa Lara e Antônio Kalil Cury."

INSTRUÇÕES

Ele juntou ao volume de cópias dos cheques, todos emitidos pela SMPB Comunicação - uma das empresas que irrigaram o mensalão - um e-mail de Geiza Dias, gerente da agência de Valério, enviado a 9 de outubro de 2003, às 16h03, para um certo Bruno. "Conforme nossa conversa confirmamos o saque no valor de R$ 250 mil a ser realizado amanhã, 10/09/2003, às 12h30 pelo sr. Antonio Kalil Cury, RG 10266537, na agência Paulista - SP. De acordo com sua orientação estou pedindo ao sr. Antonio para procurar pelo sr. Guanabara (Paulista) para efetivação da operação."

Valério declarou aos procuradores da República que investigam o escândalo que os dois policiais de Minas, Rodrigues Alves e Costa Lara, "foram indicados por Zilmar para o recebimento dos recursos". Ele deu detalhes das operações: "A sistemática foi adotada em conjunto com a direção do Rural para facilitar as transferências dos recursos com indicação por representantes da SMPB, por fax ou e-mail, aos funcionários da agência do banco em Belo Horizonte do número do cheque, valor e pessoa que iria levantar os valores, uma vez que se tratavam de cheques nominais à SMPB, endossados no seu verso."

O Rural em Belo Horizonte retransmitia instruções sobre os pagamentos às agências de Brasília, São Paulo e Rio. Sobre os repasses a Duda, o empresário invocou o testemunho de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. "Delúbio me informou que (os repasses) se destinavam a pagamentos de campanhas do PT com débitos pendentes."

MOTOBOYS

Em alguns papéis, aos quais foram coladas cópias dos cheques, há manuscritos revelando os nomes de supostos motoboys e mensageiros que foram à agência Rural da Paulista. Um deles chama-se João Luís de Lima. São 3 cheques de R$ 200 mil, datados de 11 e 25 de junho e 2 de julho de 2003; 2 cheques de R$ 250 mil, emitidos em 25 e 30 de abril de 2003; e outros 3 cheques, no valor de R$ 300 mil cada um, emitidos pela SMPB em 21 de fevereiro de 2003.

Duda teria recebido um total de R$ 15, 5 milhões das mãos de Valério, segundo investigação da CPI dos Correios. Esses pagamentos foram realizados em cinco períodos, de fevereiro a novembro de 2003. As cópias dos cheques entregues à Procuradoria da República são relativas a uma parte das operações.

O empresário do mensalão também forneceu cópia do cheque número 810900, no valor de R$ 350 mil, que teria como destinatário final o diretório nacional do PT - contemplado com R$ 4,93 milhões, entre 29 de maio de 2003 e 1.º de outubro de 2004, de acordo com planilha produzida por Valério.

Da relação apresentada pelo condutor do esquema de mesadas no Congresso constam os nomes de Delúbio Soares, o ex-secretário-geral do partido Silvio Pereira e o ex-secretário de Comunicação Marcelo Sereno, além de Solange Pereira Oliveira e o advogado e ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira - contratado pelo PT para defender o partido no caso Santo André.