Título: O temor: menos liberdade
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2005, Internacional, p. A16

O pacote de medidas de combate ao terrorismo anunciado ontem pelo primeiro-ministro Tony Blair provocou grande apreensão em diversos setores da sociedade que temem um cerceamento das liberdades civis. Blair disse que as medidas visam a combater apenas os que propagam a "ideologia do mal" e desejam estabelecer um "Estado Taleban" no país. Para tanto, ele anunciou que vai emendar a lei de direitos humanos para facilitar a deportação dos que incitam à violência e ao terrorismo.

As organizações de direitos humanos, o Conselho Muçulmanos da Grã-Bretanha e até o líder liberal Charles Kennedy condenaram a iniciativa. As entidades de direitos civis lembram que a Grã-Bretanha é signatária da Convenção Européia de Direitos Humanos. Um dos artigos da convenção veta a deportação de pessoas para países onde possam ser torturadas. Blair contestou, argumentando que seu governo já firmou um memorando com a Jordânia, por exemplo, que garante ao deportado tratamento humano.

O líder oposicionista Charles Kennedy também fez sérias restrições a outros pontos do pacote. Ele advertiu Blair de que banir organizações muçulmanas, fechar mesquitas e deportar pessoas que visitam livrarias e sites da internet pode aumentar a tensão e alienar as pessoas. Para Shami Chakrabarti, diretor da organização de direitos civis Liberty, Blair atacou direitos humanos cruciais e pode colocar em perigo a unidade nacional.

Já o Conselho de Muçulmanos da Grã-Bretanha classificou de prejudicial e arbitrária e a decisão de Blair de banir grupos muçulmanos por suspeita. Os dois grupos já banidos pelo primeiro-ministro britânico, Hizb ut Tahir e Al-Muhajiron, reagiram com indignação. E manifestaram intenção de recorrer à Justiça. Imran Waheed, diretor do Hizb, afirmou que sua organização jamais defendeu o terrorismo. "Somos um grupo não violento", assegurou.

As medidas receberam apoio do Partido Conservador, o principal de oposição. "O pacote contém medidas vitais para a defesa da sociedade", disse David Davis, um dos porta-vezes da agremiação.