Título: Empresa dos ladrões tinha registro
Autor: Carmen Pompeu
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Metrópole, p. C3

FORTALEZA - Policiais federais descobriram ontem à tarde duas paredes falsas que escondiam quartos com sacos cheios de areia e terra na casa usada pelos ladrões da agência do Banco Central em Fortaleza. O material foi retirado para escavar o túnel usado pelos bandidos para chegar à caixa-forte do BC. Na casa funcionava uma empresa de fachada, a Grama Sintética. Os ladrões tomaram o cuidado de registrar a empresa na Junta Comercial de Fortaleza no início de junho, com o nome PS de Sousa Grama Sintética. A empresa foi montada na casa de número 1.071 da Rua 25 de Março, a aproximadamente uma quadra do edifício do BC. É um dos prédios antigos do centro histórico. Tem 12 cômodos. A quadrilha pintou a frente do imóvel de verde. O túnel escavado sob a rua foi aberto no compartimento dos fundos.

Os bandidos contrataram até serviço de internet durante sua estadia - a polícia estima que a passagem tenha demorado cerca de três meses para ser construída. Segundo o responsável pela instalação da internet, que não quis se identificar, um homem que se apresentou como Luís e disse ser de Mossoró (RN) o recebeu.

Além de fragmentos de impressões digitais deixados nos armários da casa, os peritos da PF recolheram ferramentas e equipamentos: pás, picaretas, enxadas, cavadores, rolos de fios para instalação elétrica, arames, alicates, disco diamantado (usado para cortar ferro), serras, serrotes, martelos, chaves de fenda, baldes, bolsas, roldanas, botas.

Os ladrões também deixaram para trás preservativos, muitas toalhas, roupas - e um vasto estoque de alimentos: garrafas de bebidas isotônicas, latas de feijoada, sacos de pães e refrigerantes. Foi encontrado ainda um banco de carro, que deve ter sido retirado do furgão para transportar os R$ 150 milhões levados do BC.

O buraco cavado nos fundos da casa tem 4 metros de profundidade. Dá acesso ao túnel que atravessa uma avenida (a D. Manuel) e vai direto ao cofre do BC. Nele, há vários tubos que levavam eletricidade, água e até ar-condicionado para que os ladrões pudessem trabalhar com calma escavando a passagem, de 78 metros de extensão e altura de 70 centímetros. Um perito levou uma hora para percorrer a passagem.

Na casa, também foram encontrados tambores de plástico cortados ao meio. A polícia acha que eles tenham sido usados para - por meio do sistema de roldanas - transportar os sacos de dinheiro de uma extremidade a outra do túnel, deslizando sobre a manta plástica que reveste o piso.

A quadrilha soube calcular o momento certo para agir. A agência foi fechada na sexta-feira às 18 horas e só reabriu na manhã de segunda-feira. Os bandidos tiveram o fim de semana inteiro para levar cerca de 3,5 toneladas em notas. Mas, de acordo com agentes da PF, é possível que o todo o montante tenha sido retirado do cofre na virada de sexta para sábado.