Título: Valério diz que Dirceu, 'hoje um inimigo', sabia das operações com PT
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A5

BRASÍLIA - O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza reafirmou ontem, em depoimento à CPI do Mensalão, que o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) era a garantia para o caixa 2 do PT. "Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) cansou de me falar que o José Dirceu sabia das operações. Os empréstimos foram renovados porque tinham o aval de uma pessoa superior", disse. Indagado se era amigo de Dirceu, Valério reagiu: "Não sou amigo do José Dirceu. Hoje, o considero meu inimigo." E bateu: "Era um ministro poderoso e arrogante. Não é amigo de ninguém."

Valério confirmou informação de sua mulher, Renilda de Souza, de que Dirceu reuniu-se com representantes dos bancos Rural e BMG, que emprestaram dinheiro ao PT. Mas fez questão de poupar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva: "Não posso dizer que sabia de algo."

Marcos Valério estava tranqüilo no seu depoimento à CPI do Mensalão, ao contrário do que ocorreu no mês passado, quando, muito nervoso e sem esclarecer quase nada, foi à CPI dos Correios.

Ele deixou claro, ainda, que temia pressões e chantagens por parte do governo caso não atendesse aos pedidos de empréstimos ao PT.

EMPRÉSTIMOS

Valério informou à CPI que só de empréstimos no Rural e BMG foram arrecadados R$ 55.217.271,02 para o caixa 2 do PT. Segundo o empresário, como o partido não pagou nada, a dívida gira em torno de R$ 100 milhões.

Valério relatou que Delúbio o tranqüilizou, explicando que o PT arrecadava R$ 50 milhões por ano. "E afirmou que esse valor dobraria com a participação de novos elementos no governo."

Indagado se se considerava um criminoso, respondeu: "Cabe à Justiça julgar. Mas não me sinto confortável em estar neste lugar."