Título: Complicou a engenharia da reeleição
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A11

Viagens e mais viagens. Palanques e mais palanques. E cafés da manhã com o deputado Severino Cavalcanti. Por enquanto, é esta a resposta do presidente da República à monumental crise moral e política que envolve seu governo e seu partido. Um tanto antecipadamente, Lula inaugurou a campanha eleitoral de 2006. Por mais desgostoso que esteja com o envolvimento do PT, Lula não poderá dispensar o apoio de seu partido. Afinal, ainda não se aboliu no País a democracia representativa e, como a lei não permite candidaturas avulsas, é de se imaginar que o presidente Lula será candidato à reeleição pelo PT.

A partir daí, alguma especulação é permitida. Em 2002, o estado-maior de sua vitoriosa campanha era composto por José Dirceu, Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Genoino, Luiz Gushiken, Ricardo Kotscho, Frei Betto, entre outros. Além do marqueteiro-mor Duda Mendonça. Como será composto o estado-maior da campanha de Lula-2006, uma vez que Kotscho e Frei Betto se afastaram, por desencanto, e os demais estão mergulhados na lama do escândalo do mensalão?

Outra especulação interessante diz respeito à política de alianças. Já sabemos que o PT não é suficiente para sustentar um governo, e em 2006 deverá sair ainda menor. Como será a articulação política entre Lula e os outros partidos, com vistas a constituir uma aliança eleitoral para a reeleição? O PL continuará sendo a opção preferencial ou o PMDB vai fazer o papelão de fornecer o companheiro de chapa?

Finalmente, como será montado o financiamento da campanha de reeleição? Quem será o novo tesoureiro, e com que recursos o candidato Lula vai contar para seus deslocamentos pelo País, seus comícios, seus programas de rádio e TV?

A rede de assistencialismo montada a partir do Bolsa-Família pode ser suficiente para arregimentar o eleitorado e garantir a reeleição do presidente. Afinal, não só nos grotões, mas nas periferias das capitais e grandes cidades, existe um contingente cada vez maior de populações despossuídas de tudo, desassistidas pelo poder público e mantidas em permanente estado de carência. Esse exército eleitoral de reserva elege um presidente da República, mas para isso é preciso uma engenharia de campanha que o presidente ainda não tem, pois os engenheiros que construíram sua vitória em 2002 estão atolados no escândalo.