Título: Vice-presidente do banco depõe em processo por gestão fraudulenta
Autor: Jamil Chade, Jair Rattner
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A7

BELO HORIZONTE - O vice-presidente do Banco Rural, José Roberto Salgado, prestou depoimento ontem na Justiça Federal, em Belo Horizonte, no processo em que é acusado de gestão fraudulenta de instituição financeira e formação de quadrilha. Salgado, outros quatro executivos e um ex-diretor do banco foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF), que identificou entre abril de 1996 e janeiro de 2000 um total de US$ 4,8 bilhões enviados ao exterior por meio de contas CC-5. Deste montante, segundo o MPF, pelo menos US$ 192 milhões foram enviados de forma ilícita. No depoimento de duas horas ao juiz da 4.ª Vara Federal, Jorge Gustavo de Macedo Costa, o vice-presidente do Rural negou as acusações. "O Banco Rural e seus dirigentes são inocentes e jamais cometeram qualquer irregularidade."

A estratégia da defesa do Rural é atribuir a remessa ilegal de recursos a Odilon Cândido Bacelar, ex-funcionário do banco, apontado como doleiro. Odilon também é réu no processo - foi denunciado somente pelo crime de formação de quadrilha e identificado como o "aliciador de laranjas" - e foi condenado a cinco anos e nove meses de prisão por aliciamento de doleiros ao Banco Plus, do Paraguai. "Os doleiros interessados na solução melhor para eles resolveram atribuir às instituições financeiras as responsabilidades por seus próprios atos", disse o advogado Maurício Campos Júnior, sem citar nomes.

O procurador Rodrigo Leite Prado, um dos autores da ação, disse, porém, que não consegue "visualizar essa alternativa".

Campos Júnior negou também que Salgado tenha sido o "mentor" do esquema de remessa ilegal de recursos por meio de contas CC-5 no País, conforme acusaram os procuradores na denúncia. Segundo ele, "os controles da época realmente poderiam permitir que outras pessoas fizessem esse tipo de envio".

Anteontem, prestaram depoimento Vinícius Samarane (na época diretor do IFE Rural Uruguay) e Francisco de Assis Morais Pinto Coelho, superintendente de câmbio do banco. Danton Alencar, ex-diretor de câmbio do banco, também foi ouvido ontem. Prestarão depoimentos ainda os gerentes de câmbio da instituição financeira, Cláudio Eustáquio da Silva e Ronaldo dos Santos Corrêa, além de Odilon Cândido.