Título: PF investiga esquema de remessa de divisas
Autor: Jamil Chade, Jair Rattner
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A7

Mais de R$ 1 bilhão teriam sido enviados para as Ilhas Cayman por meio de uma offshore no Uruguai

BRASÍLIA - O Departamento de Inteligência da Polícia Federal abriu investigação sobre um esquema de remessas de divisas para fora do País. Pelo esquema, teriam sido enviados para o exterior mais de U$ 1 bilhão entre 1997 e 2005. O dinheiro era remetido do Brasil por um banco estatal, cujo nome ainda é mantido em sigilo, para uma empresa offshore no Uruguai. Por sua vez, a empresa uruguaia fazia os repasses para uma instituição estrangeira com representação nas Ilhas Cayman. O inquérito foi aberto no mesmo dia em que o empresário José Carlos Batista, dono da Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações, foi indiciado por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e crime contra o sistema financeiro. Ele é acusado de ter recebido R$ 7,1 milhões do empresário Marcos Valério de Souza e de ter remetido ilegalmente parte desse dinheiro para o exterior. Uma das suspeitas é de que Batista seria intermediário de remessas feitas por outras pessoas, entre eles parlamentares.

Batista compareceu para depor ontem na Polícia Federal munido de um mandado de segurança concedido pela Justiça que lhe garantiu o direito de ficar calado. Por isso, recusou-se a responder às perguntas sobre sua participação no caso do mensalão. Os R$ 7,1 milhões sacados por Batista foram identificados pelo Banco Central, que comunicou a movimentação à CPI dos Correios.

Na lista de sacadores que Valério entregou ao Ministério Público Federal, o dono da Guaranhuns aparece como laranja do ex-deputado e ex-presidente do PL Waldemar Costa Neto (SP), primeiro a renunciar ao mandato em conseqüência do escândalo do mensalão, suposta mesada paga a parlamentares em troca de apoio ao governo. Na lista, aparecem outros dois laranjas de Costa Neto: os irmãos Jacinto e Antônio Lamas.

INDICIAMENTO

No primeiro depoimento à PF, há dez dias, Jacinto, que é ex-tesoureiro do PL, confirmou que parte dos R$ 10,8 milhões recebidos pelo partido das contas de Valério, eram sacados pela Guaranhuns e repassados a Costa Neto. Ouvido novamente ontem, no mesmo horário de Batista, Jacinto confirmou o teor do depoimento anterior. Batista havia negado, em entrevista ao Estado, que conhecesse os dirigentes do partido e qualquer participação no esquema. Confrontado com Lamas, porém, o presidente da Guaranhuns ficou mudo e acabou indiciado. Hoje a PF toma o depoimento do outro Lamas, Antônio.

A PF está incomodada com a resistência do publicitário Duda Mendonça em prestar depoimento. Depois de várias tentativas frustradas de intimar Duda, ele se apresentou na superintendência da PF em Salvador, em companhia do advogado e da sócia, Zilmar da Silveira, deu endereço onde disse que permaneceria à disposição das autoridades e alegou que daria toda colaboração.

A PF mandou de Brasília um delegado para ouvi-lo no endereço indicado, mas ele viajou para São Paulo sem dar satisfação. Hoje, será feita nova tentativa de intimação e, se ficar comprovada má vontade, será usado o caminho legal do depoimento sob coação, conforme informou um delegado ligado ao inquérito.