Título: R$ 3,4 milhões e 35 cheques ligam PT e PL a offshore
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal tem provas documentais de que a Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações Ltda repassou ao PT e ao PL valores que recebeu da SMPB Comunicação, dirigida pelo empresário do mensalão Marcos Valério Fernandes de Souza. São cópias de 35 cheques, no montante de R$ 3,4 milhões - transferidos em apenas dois meses de 2003 para a Guaranhuns, que seria ligada a offshore (empresa de fachada) estabelecida no Uruguai, a Esfort Trading, que mantém conta nas Ilhas Cayman. Dois documentos são referentes à compra de cheques administrativos - número 725579 e 725580 - para a Guaranhuns, no valor total de R$ 152 mil, em abril de 2003. Fichas de caixa do Banco Rural, com visto de Simone Reis Vasconcelos - diretora-financeira da SMPB - também fazem parte da documentação de posse da Procuradoria-Geral da República. Nesses papéis, ao lado do visto de Simone, aparece a sigla do Partido dos Trabalhadores.

A Guaranhuns está sob investigação da CPI dos Correios, que acionou a Interpol (Polícia Internacional) para rastrear suas atividades em Montevidéu e seus verdadeiros acionistas. A Esfort detém 99% das cotas da Guaranhuns. A CPI suspeita que José Carlos Batista, operador do mercado financeiro e dono de 1% da Guaranhuns, seria laranja do mensalão. Ele nega. A Guaranhuns entrou no esquema entre Valério e o PT por indicação de Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido. A revelação foi feita pelo empresário à Procuradoria. Ele disse que Delúbio orientou-o a fazer transferências para a Guaranhuns depois de apresentá-lo ao então tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, e ao presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que semana passada renunciou ao mandato de deputado.

"A SMPB e a Guaranhuns firmaram um contrato para justificar as saídas de recursos, embora a contabilização tenha sido feita como empréstimos ao PT", declarou Valério. Segundo o empresário, Delúbio indicou a corretora Bônus-Banval para destinação de recursos. Na época, o tesoureiro do PT e Valério haviam decidido interromper a onda de saques em dinheiro vivo na boca do caixa do Banco Rural, agência de Brasília. Esse expediente foi considerado arriscado, principalmente depois que R$ 200 mil foram resgatados por um desconhecido.