Título: Gasolina deve aumentar só no fim do ano
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Especialistas acreditam que a Petrobrás vai espera, p. B9

Especialistas acreditam que a Petrobrás vai esperar o fim do verão no Hemisfério Norte para decidir

RIO - O preço da gasolina deve subir só no fim do ano. Essa é a opinião unânime de especialistas do mercado financeiro ouvidos ontem pelo Estado. Para eles, a Petrobrás vai aguardar o final do verão no Hemisfério Norte, quando as cotações internacionais do petróleo tendem a se estabilizar, para definir o aumento. Desse modo, a estatal também consegue segurar o impacto na inflação de 2004. "A estratégia é correta do ponto de vista macroeconômico porque não contamina a inflação do ano", avalia Jason Vieira, economista da Global Invest, que prevê um aumento de 5% em dezembro.

Em 2004, quando promoveu o último aumento da gasolina e do diesel, a Petrobrás adotou mesma estratégia, lembram os analistas, ao fazer as mudanças no fim de novembro. Antes, a empresa fora criticada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em razão da imprevisibilidade de sua política de preços.

"O ideal seria que os reajustes não levassem tanto tempo", rebate o analista da Corretora Ágora Sênior, Luiz Otávio Broad, repetindo opinião corrente no mercado. Ele também acredita em reajuste no quarto trimestre, só que de 6%. Isso, caso o preço do petróleo recue nos próximos meses. Se não, a alta será maior.

Entre analistas voltados mais para questões macroeconômicas, a estratégia da estatal é elogiada. Afinal, lembra o economista da PUC-RJ Luiz Otávio Leal, 10% de aumento dos combustíveis representam 0,3 pontos porcentuais no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Além disso, com inflação maior, o aperto monetário permanece, com conhecidos impactos no desenvolvimento do País.

O fato é que a estatal não vem perdendo tanto com a manutenção dos preços, lembra Leal. A empresa teve lucro líquido de R$ 5 bilhões no primeiro trimestre e deve superar os R$ 6 bilhões no segundo trimestre, estima a Ágora Sênior. Esse desempenho reflete o impacto, em sua receita, da alta nas cotações internacionais do petróleo. Afinal, a Petrobrás segue o mercado externo para fixar o preço de seu óleo. Este ano, a produção vem subindo todos os meses, com o início de operações de novas plataformas.

A empresa reclama que o mercado usa só as cotações americanas como base de comparação com os preços brasileiros, quando deveria olhar também para as da África e da América do Sul, de onde importa grandes volumes de petróleo e derivados.

Ainda que a empresa se recuse a admitir, questões políticas também têm impacto nas decisões, dizem os entrevistados. "Essa coordenação com a área econômica do governo, na prática, não devia existir, mas está claro que existe", afirma Leal.

ANTIFRAUDE

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) estuda a possibilidade de aplicar uma espécie de corante no álcool anidro para combater a adulteração dos combustíveis. A eficácia da medida, segundo a técnica da ANP Maria Cristina Soares Guimarães, ainda precisa ser avaliada.

Segundo ela, o transporte e a exportação do álcool podem atrapalhar o plano. "Existem especificações técnicas que impedem a adição de qualquer produto ao álcool", diz.