Título: BC vai atingir a meta, prevêem economistas
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Pode ser a 1.ª vez desde 2000 que objetivo será conquistado

Pela primeira vez desde 2000, a inflação deve ficar dentro da meta ou bem próxima dela, na estimativa de vários economistas. O mercado financeiro já reduziu sua expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que passou de 5,54% para 5,5%. A meta de inflação para este ano é 5,1%. Alguns economistas vão além. Eles estão revendo suas projeções e acreditam que o IPCA pode ficar abaixo de 5,3% ou mesmo em 5%. A persistente queda do dólar e alguns choques positivos levaram a inflação a cair mais rapidamente do que era esperado, dizem.

A deflação dos alimentos foi o principal choque positivo sobre os preços. Julho, mês que normalmente sofre influência de um aumento sazonal dos alimentos, teve uma retração significativa nos preços desses produtos.

Outro choque positivo foi o dos preços administrados. Em junho, houve uma grande redução no preço do álcool combustível. No mês passado, ocorreu uma redução nas tarifas de energia elétrica.

A persistente apreciação do real foi outro ponto muito importante. Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria Integrada, projetava que o dólar estaria cotado a R$ 2,55 no final do ano e o IPCA seria de 5,6%. Agora, com a valorização do real, ela mudou suas projeções: dólar a R$ 2,45 em dezembro e IPCA de 5,5%, pouco acima da meta de 5,1%.

"Uma seqüência de choques positivos sobre os preços administrados e a deflação dos alimentos causaram esse grande recuo na inflação", diz Marcelo Cypriano, economista-sênior do BankBoston.

Segundo Cypriano, nos últimos dois meses, os preços livres ficaram praticamente zerados. "Essa é uma situação inédita", diz o economista. "Talvez isso quebre a inércia inflacionária e resulte em uma aceleração bem mais lenta da inflação; com isso, o IPCA pode ficar dentro da meta de inflação deste ano."

Para Cypriano, existe uma possibilidade de 50% de a inflação ficar dentro da meta ou bem próxima dela - isso não acontecia desde o ano 2000. Em 2000, o IPCA ficou em 5,97%, dentro da meta de 6%. Nos anos seguintes, a inflação estourou a meta.

Em 2001, a meta era 4% e a inflação ficou em 7,67%. Em 2002, o IPCA explodiu - ficou em 12,53%, bem acima da meta ajustada de 5%. Em 2003, outro estouro: inflação de 9,30%, diante de meta ajustada de 8,5%. E, no ano passado, a meta ajustada era de 5,5% e o IPCA ficou em 7,6%

VITÓRIA

Para os economistas, a queda da inflação é uma grande vitória para o BC. "No início do ano, muitos questionavam a eficácia da política monetária, diziam que não estava conseguindo controlar a inflação. Agora, é consenso no mercado que a política está funcionando", diz Tatiana Pinheiro, economista-sênior do Banco ABN Amro. "A política monetária contribuiu para a valorização do real e para conter a demanda, dois fatores importantes para reduzir a inflação", afirma Marcela, da Tendências.

Tatiana ainda se mantém prudente. "Queremos ver os resultados de agosto, fora da influência dos preços de alimentos, que são muito voláteis." A economista do ABN Amro quer ver se julho e junho foram atípicos ou se a tendência positiva vai se manter. "Os dados dos últimos meses indicam que estamos muito perto de cumprir a meta, mas ainda quero ver os números de agosto."

Ela afirma que as expectativas do mercado são pautadas, em grande parte, pela inflação corrente. Em abril, quando a inflação medida pelo IPCA ficou muito acima da expectativa - a projeção era 0,50%, e o IPCA ficou em 0,87% - as previsões do mercado financeiro subiram muito. Agora, com o IPCA abaixo do projetado, as expectativas caíram, influenciadas pelos dados mais recentes.