Título: Banco torce pelo fim da valorização do real
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Editorial de publicação do BNDES diz que política macroeconômica é muito severa

RIO - O BNDES espera que a valorização do real "seja detida", apesar das seguidas declarações do Ministério da Fazenda e do Banco Central de que não haverá intervenções no mercado cambial, a não ser para conter o excesso de volatilidade. O editorial da primeira Sinopse do Investimento sublinha, de maneira sutil, as divergências de visão de política econômica entre o BNDES e a equipe econômica da Fazenda e do Banco Central.

Classificando a política macroeconômica de "bastante severa", o documento do BNDES a responsabiliza parcialmente pela "perda de impulso expansivo em 2005", junto com outras causas, como a crise no setor agrícola e problemas na construção civil.

O editorial, no entanto, nota que, a confirmar-se a visão geral de que a Selic (juro básico) começará em breve a ser baixada, a recuperação econômica, a partir do segundo semestre deste ano, retomará a trajetória clássica, difundindo-se para muitos setores e, especialmente, para o de bens não-duráveis, mais sensível à renda.

Na visão do BNDES, o bom desempenho de dados de investimento como os do Finame em 2005 mostra que há ânimo de investir por parte dos empresários, mas estes ainda preferem a troca de máquinas e os ganhos de eficiência e produção à construção de novas fábricas, diante da política macroeconômica pouco estimulante e de outras incertezas.

Quanto à crise política, o documento chama a atenção para a "notável resistência da economia", e acrescenta que "somente a desconstrução das condições macroeconômicas poderia retirar a economia da trilha de crescimento em que estão ingressando".

Os desembolsos totais do BNDES cresceram 16,7% no acumulado de janeiro a julho deste ano ante igual período do ano passado, totalizando R$ 24,48 bilhões, ante R$ 20,98 bilhões nos sete primeiros meses de 2004.