Título: Petrobrás espera lucro histórico no 2.º trimestre
Autor: Alaor Barbosa e Kelly Lima
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Economia & Negócios, p. B8

Mesmo sem aumentar os preços dos principais combustíveis, a Petrobrás conseguiu se beneficiar da alta do petróleo no mercado internacional e deverá apresentar lucro recorde no balanço do segundo trimestre de 2005, que será divulgado amanhã. Segundo projeções de seis instituições financeiras consultadas pelo Estado, o lucro líquido deve oscilar entre R$ 5,6 bilhões e R$ 7,4 bilhões, o que indica aumento de quase 100% em relação aos R$ 3,8 bilhões contabilizados no segundo trimestre do ano passado. Nos três primeiros meses de 2005, a empresa lucrou R$ 5,021 bilhões. A média das projeções gira em torno de R$ 6,2 bilhões para o lucro líquido, R$ 10,7 bilhões de Ebitda e R$ 30 bilhões para receita líquida. Foram consultados analistas da Ágora Sênior, UBS, Fator Corretora, GAP Asset e BES Securities, além de um relatório do Brascan.

Embora haja grande dispersão quanto aos resultados, há quase unanimidade sobre os motivos da melhoria dos resultados: a alta do preço do petróleo no mercado internacional está favorecendo a maior empresa brasileira, já que a Petrobrás está conseguindo bater recordes seguidos na produção.

Os analistas não estão esperando reajustes nos preços dos derivados para os próximos dois meses. "Mantido o patamar atual, o mais provável é que a empresa reajuste os preços da gasolina e do diesel só no quarto trimestre, como ocorreu no ano passado", observa o analista de investimentos da Ágora Sênior Luiz Otávio Broad. Com isso, a empresa estaria dando uma contribuição adicional para que o Banco Central alcance a meta de inflação deste ano, prevista em 5,1%, com base no IPCA. "Ao reajustar os preços em novembro ou dezembro, o impacto maior fica para o ano que vem."

O consultor Luiz Henrique Sanches, ex-diretor comercial da Refinaria de Manguinhos, avalia que o fato de a Petrobrás manter os preços da gasolina e do diesel no País pode ser "péssimo para a livre concorrência", mas elevá-los "seria um mau negócio para o governo". Em sua análise, Sanches lembrou que o barril de petróleo custa hoje para a estatal em torno de US$ 15 e a estatal o vende por US$ 45.

"Ela poderia estar ganhando US$ 60 pelo barril, mas ninguém pode acusá-la de dumping, porque ela está ganhando e bem sobre o custo que tem para produzi-lo", argumenta. "O impacto que um aumento da gasolina e do diesel teria na inflação, e conseqüentemente nos juros e na dívida pública, seria muito, mas muito maior mesmo do que o governo poderia lucrar via Petrobrás com este reajuste, considerando que ele só receberia 25% dos dividendos sobre as ações que lhe cabem. Desta forma, a opção fica muito clara entre reajustar ou não."

Além do preço do petróleo no mercado internacional, outro ponto que está exigindo acompanhamento atento do mercado financeiro é a revisão do planejamento estratégico da empresa, a ser aprovado pelo conselho de administração na próxima sexta-feira. Adriano Seabra, analista da GAP Asset, defende que a empresa mantenha o foco nos seus investimentos em exploração e produção de petróleo, sem muita dispersão nos investimentos.

Seabra admite que os novos números referentes aos investimentos serão maiores, devido ao aumento dos custos, mas a empresa tem conseguido ampliar a produção e "está entregando" resultados cada vez melhores aos acionistas.