Título: Governo perderá defensor do software livre
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Economia & Negócios, p. B10

A comunidade de software livre deve perder em breve seu principal representante na administração federal. Segundo fontes do governo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, deve anunciar em breve a saída do sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira da presidência do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI). A iniciativa teria partido do próprio Amadeu, que havia manifestado à ministra a intenção de sair. O ITI é ligado à Casa Civil e Amadeu foi levado ao governo pelo ex-ministro José Dirceu. O motivo, porém, não seria a mudança de comando na pasta. Dilma demonstrou intenção de apoiar os projetos do ITI. O instituto quer incentivar a adoção do software livre, como o Linux, em toda a administração federal. O software livre não exige o pagamento de licenças e pode ser copiado e modificado livremente pelos usuários. Os programas proprietários, como os da Microsoft, exigem o pagamento de licenças.

Amadeu vem demonstrando sinais de descontentamento desde o fim do ano passado, por não conseguir implementar os projetos de software livre na velocidade que considera necessária. Ele tem enfrentado falta de apoio em setores importantes. No mês passado, o Ministério do Planejamento decidiu reduzir de R$ 200 milhões para R$ 50 milhões a verba para a migração dos computadores do governo do software proprietário para o livre, nos próximos dois anos. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, chegou a se pronunciar publicamente contra políticas de exclusividade ao software livre. Contra os obstáculos, a Casa Civil chegou até a estudar um decreto presidencial que tornaria o software livre obrigatório nos computadores da administração federal.

A saída de Amadeu preocupa a comunidade de software livre. Mas, segundo as fontes do governo, a mudança não deve significar o fim da política em curso. Um dos nomes cotados para substituí-lo é o de Renato Martini, diretor de Infra-estrutura do ITI, que faz parte de sua equipe desde o começo do mandato do presidente Lula.

Amadeu foi responsável pela adoção do software livre nos telecentros (centros públicos de informática) na prefeitura de São Paulo, sob a gestão de Marta Suplicy. Ele chegou a ser questionado judicialmente pela Microsoft, depois de criticar a empresa em entrevista à revista CartaCapital. Apesar disso, o caso não chegou a se transformar em processo.

A política de software livre tem recebido destaque na imprensa internacional, como a revista Wired.