Título: Presidente conhecia esquema, diz Denise Frossard
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2005, Nacional, p. A4

A deputada e juíza Denise Frossard (PPS-RJ) está convicta de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha conhecimento do esquema de corrupção no governo e no PT, porém acredita que até o momento não há sentido em se falar em impeachment. "Ele sabia, agora eu não sei se ele poderia ter tomado alguma providência. Não em relação ao Congresso Nacional, porque ele é Poder Executivo, mas poderia tomar uma atitude em relação aos seus", afirmou a deputada ao se referir aos companheiros de partido do presidente envolvidos nas denúncias. Independentemente da investigação das CPIs, Frossard defende que Lula explique a situação, defenda-se. "O supremo mandatário da nação tem de ser um estadista e tem de ter clareza com seu povo", diz a deputada. "É preciso que ele fale com clareza e não com esses eufemismos, com esses sofismas que ele gosta de usar."

Integrante da CPI dos Correios, ela se mostra receosa com o andamento das investigações. Seu maior medo é o de que os interesses partidários possam decretar o fracasso da comissão. "O emparedamento da CPI me preocupa. Ela está engolfada em requerimentos que não são votados porque tocam em nervos expostos de vários partidos, do PT, do PSDB, do PFL, e é esse o perigo de se chegar a nada, a lugar algum", desabafou.

OBJETIVIDADE

Segundo a deputada, o essencial no momento é manter o foco das investigações. "Seria preciso ir com mais profundidade nos Correios", frisou, lembrando que a empresa carrega o "modelo de corrupção" que pode se estender a outras estatais. "A CPI nasceu porque apareceu a figura de um funcionário dos Correios recebendo propina e envolvendo um deputado (Roberto Jefferson) e um partido político (PTB). Esse fato é que teve evoluções e hoje nós estamos perdendo o foco."

"A nação espera um resultado disso que não seja pizza. É preciso fazer uma limpeza, o saneamento do processo", aconselhou. Na opinião de Denise Frossard, a CPI deve se ater aos casos e denúncias mais graves e entregar os indícios encontrados ao presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, a quem cabe a função de pedir a cassação dos parlamentares no Conselho de Ética.

Na opinião da juíza, a CPI vem ouvindo pessoas que não contribuem para o objetivo da comissão: descobrir os parlamentares ligados aos casos de corrupção denunciados. Segundo ela, por exemplo, não há mais nada que o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza possa dizer que os documentos recolhidos pela comissão não digam. "Marcos Valério é um caso de polícia, não é caso nosso."

Para a juíza, os parlamentares dizerem que o dinheiro envolvido nas denúncias dos Correios e Mensalão era usado para campanha não serve como justificativa atenuante de seus atos. "Caixa 2 é dinheiro sujo, de corrupção", rebateu. "O ato não é crime menor, é tão grave quanto o deputado ser lavador de dinheiro." Em sua tese, não pode ocupar o parlamento uma pessoa que recebe "dinheiro de origem desconhecida e que pode ter vindo até do tráfico".

Ao falar do deputado José Dirceu (PT-SP), é taxativa. Mesmo que não se prove a participação do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu com a corrupção, ela acredita que ele tem de ser punido. "Só pelo fato de mentir, ele (Dirceu) se torna indigno de representar a nação brasileira. Esse desvio ético, no uso parlamentar, é motivo para cassação sim."